segunda-feira, 4 de março de 2024

Alegria de um encontro

 ²⁷ "Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela?" Jo 4.

  Observe as expressões: "Neste ponto", "admiraram-se" e "todavia". Elas definem momento ("Neste ponto"), a estranheza ("admiraram-se") e a autocensura ("todavia").

  Retornamos a esse texto, também pela insistência com que, no dia a dia de nossa existência comum, esbarramos no preconceito social, na discriminação por valor menor, estes impingidos, é claro, por nós, ao outro. Como diz Rubem Alves: "As comparações são a raiz mais profunda da infelicidade humana".

   Outro é pronome indefinido. Pois o uso acima, bem entendido, significa dizer que impomos a menos valia a qualquer um e isso é tão automático quanto o texto revela que foi em relação aos discípulos.

  E Jesus, em sua pedagogia, pareceu não ter percebido, e sim contra-argumentou, resolvendo dizer que o ato dele, em diálogo com a mulher, tinha o sentido de (1) fazer a vontade do Pai, (2) recolher para o celeiro do céu mais uma preciosa vida e (3) fazia o que todos eles foram enviados a fazer.

  Donde se conclui que discriminar o outro com menos valia (1) não consta no fazer de Deus, porque (2) todos nós e os outros Ele deseja acolher em Sua colheita e ainda (3) somos, por Ele, comissionados a não nutrir preconceito ou discriminação, mas a semear e acolher.

   Não é por raça. Nem por DNA. E nem por sangue mais nobre. O único "sangue bom" foi o de Jesus. E não foi por uma gotinha 💉 de sangue que, como dizem as Escrituras:

¹⁸ "...sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, ¹⁹ mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, ²⁰ conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós". 1 Pedro 1.

   Não pense que se pode ser vacinado dessa soberba racial. Identifiquemo-nos com a samaritana. Para de se achar. Em que somos superiores? Em nada.

   Foi prata ou ouro? Nem um, nem outro. Foi sangue, pelo "precioso sangue, como de cordeiro, sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo". Nem vacina. Foi transfusão.

   Então, como diz Paulo, ou seu correlato Tiago, a jactância está excluída. ²⁷ "Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída". Rm 3. E Tiago: ¹⁶ "Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna." Tg 4.
 
   Jactância é ostentação. Aqueles apóstolos, definitivamente, avaliavam-se como superiores àquela mulher. Pobre pretensão. Aos olhos de Cristo, bem, Jesus preferiu, amorosamente, pôr em destaque:

 (1) o Seu próprio ministério, que é acolher todos, (2) indicar que sempre é tempo para acolher em amor e (3) eles mesmos, imitadores de Cristo, teriam a chance de praticar esse acolhimento e esse mesmo amor.

   Só mesmo Jesus para reagir desse modo diante da ostentação, à qual Tiago denominou maligna. Não que Jesus discorde. Mas é que no contexto da história da samaritana, talvez, a alegria daquele encontro o tenha contagiado.

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