domingo, 3 de março de 2024

Há exortação em Cristo (?)

 "Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, ² completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. ³ Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. ⁴ Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros." Fp 2.

   A primeira anotação no texto menciona "exortação em Cristo", precedida da conjunção "se". Significa uma chamada próxima de alguém sempre perto, que representa despertamento, encorajamento, admoestação.

   Esse pessoa corresponde a Cristo? Mas que Cristo? Ou como Cristo? De que modo chega a nós essa exortação? Ou quem, a que e como nos exorta?

A. Exortação em Cristo: que Cristo?

1. O Cristo é o da experiência pessoal: sim, mas não somente. Ele fala individualmente, mas não exclusivamente. A orientação pessoal recebida, pode valer como exemplo geral a todos, mas é específica para o fiel.

2. O Cristo é o da experiência com a Bíblia: sim, mas não de exclusiva interpretação individual. Sempre que a palavra de Deus vem ao homem/mulher, é no contexto da comunidade. Por ela se conhece a instrução geral, que reforça a individual.

3. O Cristo é o da experiência com a ortodoxia ou doutrina: sim, para todos, a "disciplina da fé" ou a síntese, que referencia o grupo, que não sofre profundas alterações. Mas é como roupa velha, que somente deve ser usada, de forma restrita, a esse mesmo grupo.

B. Pensar a mesma coisa: em que sentido? Conflito da opinião própria X opinião sábia.

1. Por exemplo, da ortodoxia. O que Paulo define como "discutir opiniões" aplica-se a não gastar tempo ou energia divergindo, de modo estéril ou carnal, por opiniões mal fundamentadas ou defesa teimosa de pontos de vista particularíssimos.

   Ter sincronia, mesma percepção, o mesmo senso de valor em relação ao que provém de Cristo. 

2. Ter o mesmo amor: pode parecer fácil, porque amor somente há o verdadeiro. Ele é divino, distribuído de graça e ao alcance de qualquer um. Talvez por ser uma aspiração legítima ou desenhar um belo horizonte, seja tão cobiçado e facilmente falsificado. Já avaliamos o que se torna necessário para obter, amadurecer, vivenciar e praticar esse amor?
2.1. Conversão (arrependimento);
2.2. Fruto do Espírito (luta contra a carne);
2.3. Santificação - até a glorificação (ação da Trindade).

3. Unidos de alma: são estágios cumulativos. Ninguém se torna unido de alma sem pensar a mesma coisa e ter o mesmo amor. Refletindo sobre essas etapas, percebemos algumas coisas:
3.1. Paulo deseja que percebam somente ser possível alcançar coletivamente as virtudes citadas;
3.2. Não há, como igreja, outra tarefa maior, mais nobre ou urgente do que essa;
3.3. Essa busca constitui-se na construção do sentimento que corresponde ao de Cristo, pois somente Ele e nEle é possível agregar esses valores.

Paulo termina definindo o equilíbrio entre o eu e o outro. Partidarismo (rivalidade) ou vanglória (orgulho vazio) estão fora. Humildade, que ele define como pôr à frente o interesse do outro e não o (meu) nosso próprio.

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