segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Bendize, minha alma

 Por que a alma deve bendizer ao Senhor?

   Por que alma? Por saber quem na verdade somos. Se não conseguimos nos subverter definitivamente, a alma prossegue sensível para dizer quem somos na verdade.

Bendize, alma, mas não esqueça nenhum só (olhe vem o uso do indefinido). Mas será chamar de benção as que são verdadeiramente bênçãos.

Bênçãos pessoais 

 1. Conta as bênçãos. E uma delas,  é contablizar os pecados, para saber de onde Deus nos tirou. Quais são,  então,  esses benefícios?

1.1. Perdoa todas (veja bem o pronome indefinido) as nossas iniquidades e Sara essa enfermidade (ver Isaías 53 e Romanos 8): o pecado é  a única enfermidade que "amamos";

1.2. Quem redime a vida da cova. E não pense que se trata de atrasar a ida para o cemitério. Puxa, como desejei isso para meu pão e minha mãe,  e Regina para o país dela. Pelo menos, para depois do culto dos 90 anos. Mas do sentido de cova relacionado ao modo de vida herdado após a expulsão do Éden, errante em relação à árvore da vida.

1.3. E que coroa de bênçãos pela velhice afora, mantendo a qualidade de vida,  em lucidez e ganho espiritual. Definitivamente, prosperidade não é ganho financeiro. A coroa é graça e misericórdia (amor). Graça é o que permite a Deus,  sem peço, dar, conceder e amor regula o Seu envolvimento conosco.

Bênçãos gerais

1. Faz justiça;

2. Julga todos os oprimidos;

3. Manifestou a Moisés e 

4. Aos filhos de Israel seus caminhos;

Quem Deus é:

3. Misericordioso (amoroso), compassivo, longânimo, assaz benigno;

3.1. O que isso significa: 

3.1.1 Não repreende perpetuamente/nem conserva para sempre a sua ira;

3.1.2.  Não nos trata segundo os nossos pecados/nem nos retribui consoante as nossas iniquidades;

3.1.3. Qto o céu de alteração da terra é gde a sua misericórdia (amor) para com que os temem/Qto dista por Oriente do Ocidente assim afasta de nós a nossas transgressões/Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem.

4. O que Deus sabe

4.1. Nossa estrutura que é pó;

4.2. Nossos dias como a relva e a flor do campo 

4.3. Contrasta com isso a Sua misericórdia (amor) de eternidade/ e justiça sobre 

4.3.1 Os que o temem/o os filhos dos filhos 

4.3.2. Para os que guardam Sua aliança/os que lembram seus preceitos e os cumprem

5. Onde Deus está, onde habita Is 57,15

6. Quantos e quem bendizer-lHe o nome:

6.1. Anjos

6.2. Exércitos e ministros 

6.3. Todas as obras em todos os lugares.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Aula de amor em 1 João 4

 A toda hora é urgente falar de amor. Não porque nos declaramos especialistas no assunto. Seria plena prepotência. Mas porque é essencial.

  Conhecer, praticar, refletir sobre ele. Interessante Paulo afirmar que excede todo o entendimento. Mas que conhecer esse amor é ser tomado "de toda a plenitude de Deus".

  Afirmar  isso só tem duas saídas: ou é uma loucura, ou plenamente factível. Por constar nas Escrituras, e somente nela consta, tem toda a credibilidade.

¹⁹ "...e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus."Ef 3.

  Em João 15 Jesus dá uma aula sobre amor. O contexto é a última Páscoa (e primeira Ceia), ensejo do texto da videira. E João, apelidado "apóstolo do amor", também dá aula em sua 1 João.

  Qual o origem do amor? Deus, porque somente existe nEle. Mas pertence à essência do amor ser compartilhado. Deus o faz no Filho. Mas não existe amor periférico.

⁷ "Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. ⁸ Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor."   1 Jo 4.

  Nem simulação de amor. Ou dissimulação de amor, ou seja, hipocrisia disfarçada. E somente tem amor quem recebe o Filho.

¹⁰ "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." 1 Jo 4.

  Porque amor só existe pela dádiva do Filho, batizados no Filho e exercido na igreja, para efetiva ação de desdobramento no mundo.

   Autenticidade de amor somente uma vez garantida por Deus. Exercida pela comunhão com o Filho, no contexto da Igreja, para ação fora dela, no contexto do mundo.

¹¹ "Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. ¹² Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado." 1 Jo 4.

  E é ação do Espírito em nós. Se somente amor só existe em Deus, é-nos concedido no e pelo Filho, só atua em nós e, por meio dele, autenticados filhos de Deus por suporte único de ação do e pelo Espírito.

¹³ "Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele, em nós: em que nos deu do seu Espírito.

  A igreja de Jesus está no mundo, nele aparece e dá testemunho verdadeiro de sua identidade com Jesus por amor, vivenciando e demonstrando esse amor no mundo.

¹⁴ "E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo." 1 Jo 4.

   No amor, somos aperfeiçoados em Deus, nEle permanecemos, testemunhamos sem medo no mundo, mantemos confiança no Senhor e amamos o mundo, como Deus assim amou.

  Não existe outro tipo de amor. Não existe intensidade de amor. Não existe seletividade no amor. Existe amor. E, não sendo amor, trata-se de ódio.  E isso é fora de Deus.

¹⁹ Nós amamos porque ele nos amou primeiro. ²⁰ Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. ²¹ Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão." 1 Jo 4.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Mendigos de amor

 Há uma imagem recorrente que todos os que cruzam as ruas de meu bairro, Manoel Julião, ou do bairro vizinho, Conquista, conhecem.

  De uma moradora de rua, meia altura,  esquálida, às vezes nua, pelo menos da cintura para cima, uma vez dei com ela sentada no asfalto, bem onde o ônibus faria a curva, temi por ela.

  Mas segui meu curso no meu carro. Todos fazemos assim. E já a deparamos várias vezes. Não sei o nome dela. Deve ter um apelido. Todos nós nomeamos ou apelidamos.

   Como o tema de minha insônia de hoje foi amor, pensei nela como mendiga e resolvi escrever sobre mendicância de amor. Por quantos será amada essa moradora de rua?
  
   Aqui em casa, quando a congregação estava aqui, havia o Anjo. Esse eu que apelidei.  Porque eventualmente aparecia, como ocorre com os anjos. Ele tinha um modo todo dele, meio rouco, meio gutural de dizer: "Pastô". Terá sido um anjo, disfarçado, eu pensei?

² "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos." Hb 13.

   Pedia comida, um trocado, certa vez pediu agasalho e até um lençol, noutra vez. Também circulava nessas redondezas. Certa vez, eu soube que havia morrido. Ah, sim: eles também morrem.

   Mendigos de amor. Dívida de amor. Bem, de dívida de amor se vive, basta ver o versículo que segue, mas de mendigar amor, será que também se vive?

⁸ "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei." Rm 13.

   Dívida de amor todos temos. Mas não somos mendigos. Esses andarilhos são.  Esse povo de rua, muitos outros, zanzando por minha cidade, são mendigos de amor.

   A gente acha que não é mendigo de amor.  Porque mencionamos "Deus" toda hora.  Deus é nosso status.  Caramba, como sabemos de Deus uma porção de coisas!

  Olha, quem esbarrar conosco vai conhecer de Deus um montão de coisas, sim, porque de Deus sabemos muito. Bem, imitar Deus é outra coisa. Também, não vamos exagerar. Mas esse outro versículo que segue, atrapalha nossa acomodação:

¹ "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; ² e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave." Ef 5.

  Há outro, mais um versículo da Bíblia que diz que Jesus "andou por toda a parte" em amor, evidentemente. É no sermão de Pedro, na casa de Cornélio:

³⁸ "... como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele". Atos 10.

   Andar em amor, definitivamente, não é fácil. Mas em relação a Deus, não se mendiga amor. Veja bem, aprendamos isso: em nós não existe, em mínima ou autêntica medida, nenhum amor.

  Nosso amor é "amor de Efraim" (ou de Judá, dá no mesmo: nulo). Mais este versículo:

⁴ "Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa." Os 6.

  Somente Deus é fonte de amor. E somente amamos, porque Ele nos amou primeiro (desculpe te cansar com tantos versículos):

¹⁰ "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." 1 Jo 4.

  Não somos mendigos de amor. Porque Deus, pelo Espírito, derrama amor em nossa vida. Vejamos em Romanos 5. Mas esse amor se manifesta, aparece, no que e quando?

⁵ "Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado."

  Mas se esse amor derramado por Deus em nós não transborda de volta,  como dádiva, em tudo e por tudo o que fazemos, fazendo por amor, estamos em falta.

  Devemos amor. Retorne às Escrituras, no versículo de Paulo, acima neste texto. A ninguém devamos coisa alguma. Mas dívida de amor é permanente.

   Caso não vejamos amor em nossas vidas, somos como esses moradores de rua, vagando sem amor nesse mundo carente.  Lembrei do perfume de Cristo. No caso, perfume de amor.

¹⁵ "Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem."  2 Co 2.

  Para, da próxima vez, parar meu carro, aproximar-me dessa anônima moradora de rua, perguntar seu nome, caso haja em sua mente espaço e lucidez para dizer, e sentir dela o perfume.

  Mendigos de amor. Será que o somos?

domingo, 3 de agosto de 2025

Agir segundo a verdade do evangelho

 ¹⁴ "Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos". Gálatas 2.

  Quando repreender? Até mesmo a nós mesmos? Paulo, desta vez na carta aos Corintios, adverte que devemos ter acurada percepção para nos avaliarmos a nós mesmos.

³¹ "Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. ³² Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo." 1 Co11.

  E Hebreus vai corroborar, afirmando que, junto com a autenticidade de filho de Deus, está agregada a certeza e necessidade da disciplina.

⁹ "Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? ¹⁰ Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade."
Hb12.

   No caso da congregação em Antioquia, onde estavam, ainda no século I, os apóstolos Pedro e Paulo, tornou-se necessária e urgente essa pública repreensão de um deles, no caso, de Paulo a Pedro.

   Independentemente do peso de autoridade, que ambos possuíam em igual proporção, porém, após esse ocorrido, certamente geraram-se comentários e ressalvas, mas Paulo não somente não se importou com isso, como decidiu imortalizar a pública exortação no texto de sua carta aos Gálatas.

  Porque não proceder corretamente segundo a verdade do evangelho é razão urgente e mais do que suficientemente justificável a uma exortação pública.

   Na frente de todos Pedro dissimulou, então perante todos Paulo o denunciou. Sejamos cuidadosos para não avaliar errado, seja este texto, seja a oportunidade, modelo e modo de exortação.

  Conceito e preceito, na Bíblia, caminham juntos, mas necessita discernimento um do outro. O preceito aqui é exortemo-nos uns aos outros, sempre, sem esmorecer.

  O conceito é façamos com sabedoria, autoridade e sensibilidade, sem expor desnecessariamente o outro. Não pensemos ter, para gasto impróprio e inoportuno, a mesma autoridade de Paulo.

   Mas aprendamos o significado de não agir segundo a verdade do evangelho, extraindo cada passo dessa prevenção vital do incidente em Antioquia, magistralmente, pelo Espírito, aproveitado na descrição paulina.

¹⁷ "Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores" Gl 2.

  Somos, por definição, pecadores. Por isso há o risco recorrente e sempre presente de não agir segundo a verdade do evangelho. Esse foi o flagrante de Paulo na vida de Pedro, aqui explícito.

  ¹⁶ "...sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado". Gl 2.

   A justificação pela fé é a única maneira de se ver livre da imposição do pecado. Crer é depositar única e exclusivamente em Deus a capacidade de se ver livre da ação do pecado em si mesmo.

    ¹⁹ "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; ²⁰ logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim."  Gl 2.

   Somente o processo místico, ou seja, divino e não humano de redenção,  expresso nessas palavras de Paulo, podem tratar no ser humano e nele e dele livrar do efeito e presença do pecado.

   Pedro dissimulou, quer dizer, disfarçou o pecado, mas nunca pôde evitar a sua presença. E somente o viver pela fé em Jesus, que significa estar com Ele e nEle crucificado, tendo Sua presença no viver, impede que, de novo, o pecado prevaleça.

   Proceder, continuamente, segundo a verdade do evangelho, segue cada uma dessas etapas. Crer, ser justificado por fé, o que representa estar crucificado com Cristo, e somente viver e escolher o que e como se vive pela fé. 

sábado, 2 de agosto de 2025

Pelo sim, pelo não

 Costuma-se, pela não familiaridade com o texto ou por decidida intenção, desmerecer a Bíblia, frequentemente acusada culpada de males diversos.

  Talvez o mais veemente, e agora, com justiça, seja a insistente faculdade dela de confrontar o ser humano com o seu próprio mal. 

  Se estamos certos de que, realmente, assim procedem as Escrituras, com efeito, torna-se então compreensível a razão de tanta antipatia.

   Porque,  pergunta-se, quem impunemente deseja ver-se, insistentemente, confrontando com sua autoria maligna?

   Encontramos, entre outras, a seguinte afirmação do próprio Jesus:

²¹ "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, ²² a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. ²³ Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem." Mc 7.

   Críticos liberais do texto das Escrituras costumam duvidar de que tudo o que nelas constam, como tendo sido dito por Jesus, efetivamente o foi. Mas eles definem um certo critério.

  De que, muitas vezes, o mal dito (note-se bem o espaço entre estas duas palavras) é autêntico, por causa da notável sinceridade de Jesus ou pelo teste de que quanto mais estranha soe a afirmativa, mais autêntica.

  Ora, então dizer que todo o mal provém de dentro do ser humano, 100% de chance de autenticidade, até para esses mais céticos.

  E se presta para alguma finalidade, por assim dizer, as Escrituras aceitam, sim, pelo menos essa duas: confrontar com o mal, mas indicar sua definitiva cura.

  Pelo menos. Já em seu início começa por uma aula sobre o mal. Após a rica, detalhada e, por assim dizer, poética narrava da criação, que se encerra com toda bondade, em Gênesis 1:

³¹ "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia."

     Segue-se a descrição de como nossos pais chamaram, de volta, para dentro de si (e de nós) o caos. O casal, prevenido, desmerece a advertência divina.

  E o caos prossegue seu curso, no primeiro assassinato, pasmem, do primeiro primogênito, Caim, ao próprio irmão Abel.

  Seguem-se assassinatos em família, agora pelo poeta bígamo Lameque, que também matou, por causas fúteis, e ainda compôs versos gabando-se.

  E nessa aula bíblica inicial da maldade, prevenindo e descrevendo o seu efeito, que se espalha na humanidade, chega-se à depressão de Deus por haver criado homem e mulher.

⁵ "Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; ⁶ então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração." Gn 6.

   Será sempre de pasmar que algo tão medonho, a ponto de deprimir o próprio criador, não sensibilize o homem de ver, dentro de si mesmo, reconhecido do estrago que promove.

  Sim, o dilúvio foi o desespero de Deus, tentado devolver a terra ao caos.  Mas prevaleceu sua graça, simbolizada na vida de um homem e sua família:

⁸ "Porém Noé achou graça diante do Senhor. ⁹ Eis a história de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos; Noé andava com Deus." Gn 6.

   Não foi o primeiro. Seu bisavô Enoque também andou com Deus. Essa virtude chegou, pela fé, a Noé. A oração de seu pai, ao nascer-lhe o filho, além de desejar nela que fosse profeta, reflete o mesmo pesar de Deus.

²⁸ "Lameque viveu cento e oitenta e dois anos e gerou um filho; ²⁹ pôs-lhe o nome de Noé, dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou." Gn 5.

   Esse bisavô foi tomado, por Deus, ainda novo, aos 365 anos (mais ou menos 36, numa comparação de 1/10).

²³ "Todos os dias de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos. ²⁴ Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si." Gn 5.

  Deverá,  talvez, tê-lo arrebatado para que não presenciasse o Dilúvio, quem sabe. Seu neto Lameque, pai de Noé, terá morrido em pleno ano do começo da catástrofe.

  Jesus também afirmou que o mundo continua o mesmo.

³⁷ "Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. ³⁸ Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, ³⁹ e não o perceberam, senão quando veio o dilúvioe os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem." Mt 24.

  Maior é o efeito da bondade e da graça de Deus, que sempre vence. Há cura para a maldade. Mas toda a vez em que se tomar das Escrituras, sem remédio paliativo, haverá de se ver, cada um, confrontado com o mal que jaz dentro de si mesmo. E seu antídoto em andar com Deus.

domingo, 27 de julho de 2025

Afinados numa mesma nota

 ³³ "Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor." At10.

   É Pedro mesmo, esse da história acima, que escreve em uma de suas duas cartas que constam nas Escrituras,  que anjos anelaram ouvir o evangelho que ouvimos.

  Mas a prioridade ficou para nós. E a história de Cornélio demonstra essa ansiedade de um homem piedoso por ouvir o evangelho e todo o esforço é vibração de ninguém menos do que o próprio Deus para isso.

¹² "A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar." 1 Pe 1.

  Deus mobiliza ou anjo para instruir Cornélio, um romano ansioso por conhecer mais a respeito dEle. Como Centurião, pode convocar dois auxiliares e mais um soldado, de mesma intenção, para acompanhá-los até Jope.

  Pedro estava na casa de um seu xará chamado Simão. E perto das 11h, já com fome, enquanto terminava suas orações no eirado, viu descer do céu sobre si um lençol gigante,  contendo toda a sorte de animais, impuros ou não.

   Na visão,  Deus o ordenava que, indiscriminadamente, deles comesse, pela receita que quisesse.  Lotado por escrúpulos,  Pedro recusou, mas essa visão se repetiu por 3 (três) vezes com Deus o reaprendendo:

¹⁵ "Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum. ¹⁶ Sucedeu isto por três vezes, e, logo, aquele objeto foi recolhido ao céu." At 10.

   A mobilização agora, por evangelizar Cornélio, está acrescida dessa exceção bíblica, uma visão didática que o próprio Deus concede a Pedro,  Ele que tudo conhece desse seu teimoso servo.

  E ainda uma mobilização a mais, do próprio Espírito, confirmando para nós o esse perfil desse mesmo Pedro que, um dia, em Antioquia, receberá uma repreensão pública por insistir nessa mesma discriminação de gentios.

   ¹⁹ "Enquanto meditava Pedro acerca da visão, disse-lhe o Espírito: Estão aí dois homens que te procuram; ²⁰ levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu os enviei."  At 10.

  Embora até pensemos que tais coercitivas sejam menos típicas ao Espírito Santo,  aprendemos que, para Pedro, era essencial. E previamente advertido, atendeu à convocação dos emissários de Cornélio.

   Seguiu e, ao chegar a casa, poderia ter iniciado por outra forma a palavra da qual todos estavam tão ansiosos por ouvir. Cornélio reuniu em sua residência, à beira mar, em Cesareia, um amplo grupo de amigos e familiares.

²⁴ "No dia imediato, entrou em Cesareia. Cornélio estava esperando por eles, tendo reunido seus parentes e amigos íntimos." At 10.

   Pedro inicia destacando uma bruta alavanca do preconceito histórico dele e de seu povo contra gentios. Isso não provém nem de Deus e nem das Escrituras. Que micão, Pedro! Não era para se desculpar, ao inverso, por estar ali.

  Para logo seguir pregando o evangelho de Deus,  como Marcos alude sobre Jesus e Paulo cita aos Romanos. Palavra que por todo o mundo se divulga.

  Palavra ao alcance do entendimento. De como Jesus veio e o que fez e pregou por onde passou. O que dEle foi feito, mas como Deus o ressuscitou.  Mas tudo ocorreu sob desígnio do próprio Deus.

  Por isso é plenamente digno de fé. As pessoas ali acolheram a mensagem, que fez o efeito que, até hoje, perdura, que é atual e nunca caduca. A manifestação de Pentecostes ali se repetiu como garantia.

  E puderam ser verdadeiramente batizados com água,  para testemunho externo,  visto que o próprio Espírito já os havia batizado em Cristo, por testemunho interno.

A pujança,  novidade, urgência e beleza do evangelho se viu, impulsionada pelo próprio Deus.  Mobilizou anjos, homens, produziu uma visão, mobilizou o mesmo Espírito para que jamais Cornélio deixasse de ouvir a mensagem.

   Não há empolgação maior do que a do próprio Deus pelo Seu evangelho. Não há quem mais se deleite pela ação desse evangelho e seu efeito entre nós. Resta a nós vibrarmos, afinados, nessa mesma nota. 

sábado, 19 de julho de 2025

Hipérbole de amor

 Não brinque com o tempo. Ele te prega peças.  Decorre. E você nem corre, ou não corra, sem pressa, ele passa, compassado.

  Com passado não se brinca: se aprende. O tempo decorre e ensina. O tempo atenta e cura. Até o salmista ensina a oração do tempo:

¹² "Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios." Sl 90.

  Quanto aprendemos! Quanto rimos! Quanto choramos. Mas quem tem fé como garantia,  sabe que a porta da eternidade está aberta.

  E outro salmista tem o remédio do choro, tipo promessa, "Bem-aventurado os que choram, porque serão consolados", sim, esse tipo de choro:

⁵ "Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." Sl 30.

  Olha aí,  até Deus se aborrece. Mas Ele mais ama, mais perdoa. Esse é o maior desafio: amar como Ele ama e perdoar como Ele pedoa. Favor de Deus é a graça com que Ele nos ensina. No Seu favor está a vida.

  Como perguntou o apóstolo Pedra: "Devemos perdoar 7 vezes?" E Jesus hiperbolizou: "Não,  PedroPedra, 70 X 7". A vida é uma hipérbole de amor.

    E já diz PauloPequeno, o outro apóstolo, que amar se aprende perdoando. Primeiro se imita Deus no perdão, para depois se imitar no amor:

  ¹³ "Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; ¹⁴ acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição." Cl 3.

  Sorrisos. Para mim, já se vão quase 70. Para a bisavó de Bianca e Asafe, quase 90. Ora, vi minha amada aos 5, eu com 15 anos. Ninguém poderia adivinhar.

   (Bem, diz a mãe que podia, sim, conjecturar). O tempo decorreu e ela é avó comigo.  O garoto que conheci aos 12 também é avô comigo. E o do meio conheci com 6. O tempo era 1972.


  Todos na ciranda dessa vida. Ao prazer da providência de Deus. Gratos a Deus pelo perdão.  Exercitando o perdoar. Curados pelo decorrer dos anos. Envelhecidos,  sim. Porém um pouco mais sábios.

     E ainda crianças no amor.

O amor de Deus

   Pura pretensão. Tentar compreendê-lo será pura pretensão. Imagine, então, descrevê-lo. Que tal exprimentá-lo? Que tal praticá-lo?

     Corre-se um risco, que é avaliá-lo como privativo e, não, como na verdade é: coletivo, sem acepção de pessoas.

     Deus se fez homem, porque não haveria outra forma de amar. Essa é a história que a Bíblia conta. Essa história é o eixo-mestre da narrativa bíblica. Tudo, no Livro, gravita em torno desse eixo principal.

    O Livro fala de uma história de amor. Deus quis aproximar-se, ficar perto, identificar-se, misturar-se, enfim, ter comunhão com o homem.

   Deus não faz acepção de pessoas. Ama a todos igual, por mais que isso nos incomode. Sim, porque o ser humano, nós fazemos, praticamos diariamente acepção de pessoas. Nós discriminamos.

    Costumamos pôr em nosso índex negativo certos tipos e deixamos o índex positivo aberto para eventuais classificações. Nós nos achamos boa gente e pomos nos dois índex de que dispomos a seleção que fazemos.

     Precisamos aprender algumas coisas: (1) se alguém é mal ou bom, é para Deus e na avaliação de Deus. E, na avaliação dEle, todos são maus. Todos são, perante Ele, iguais. Isso nos incomoda muito; (2) ora, se Deus ama, indiscriminadamente, a todos, assim devemos ser e praticar.

     Ora, se Ele se fez homem para, indiscriminadamente, de todos se aproximar, muito mais do que isso, dar a Sua vida como cura para a maldade de todos e de cada um, maior e definitiva prova do amor devemos, perigosamente (não dar a nossa vida, inútil e desnecessário) mas nos aproximarmos, estar perto e próximos, perigosamente próximos do outro.

     Deus é amor. Então, é próximo: anseia por comunhão e praticou isso. Fez isso por amor e para perdoar. O amor tem seus riscos. Quem não quer se arriscar, não ama. Quem não se aproxima, não ama. Quem não anseia por comunhão, é porque não ama.

    Muito difícil amar como Deus ama. Perdoar como Deus perdoa. Estar, perigosamente, próximos como Jesus sempre se colocou. Ansiar por comunhão, como sempre Ele ansiou.

     Quando, ou se perguntarem a você, por que está, perigosamente, tão perto do outro, responda: é para compreender a intensidade e o interesse de Deus em amor.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

"...e morte de cruz".

 Há trechos das Escrituras, toda ela, que são prova cabal de sua inspiração divina. Pedro, econômico em seus comentários, também certas horas fenomenal, acerta quando afirma:

²¹ "...homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo." 2 Pe 1.

  E essa economia precisa de palavra, essa precisão providencial de termos também aparece no texto que se considera um hino cristológico, provavelmente por sua típica forma, ritmo e progressão de ideias.

   Paulo, aos Filipenses, inicia com o esvaziamento de Deus. Mas essa ideia, fantasticamente improvável é nítida na história da salvação.

  A sobejamente conhecida e comentada kenosis divina. A questão do poder é sensível. Daí mais um contraste de identidade entre Deus e o demônio: este aspira ao poder máximo (que, blefando, oferece a Jesus na tentação).

   Enquanto Deus se esvazia do poder ao máximo, até à morte, e morte de cruz. Paulo palmilha cada etapa neste texto:

⁶ "...pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; ⁷ antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, ⁸ a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." Fp 2.

   Usurpar para si o lugar que, naturalmente, a si já se pertence, é diabólico. Como define Judas, em sua pequena epístola: é perda de domicílio. Uma definição de demônios.

⁶ "...e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia." Judas 1.

  Ninguém usurpa para si o que se lhe é concedido ou sua própria identidade, a não ser que perverta sua própria vocação. E isso é uma definição de pecado.

   Nossos pais, no Éden, chamaram para dentro de si o caos ao qual Deus havia posto ordem. Pelo retorno ao caos, herdaram desordem moral.  Na morte de cruz, o próprio Deus,  definitivamente, anula todo o efeito do caos.

   Ele põe ordem, cria novamente em Cristo e diz haja luz, agora resplandecendo Ele próprio dentro do coração e na face de Cristo.

⁶ "Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo." 2 Co 4.

   Cristo não usurpa para Si, ao contrário do anjo decaído, o lugar que, por direito e por identidade já é Seu. Mas cumpre sua trajetória, para fazer, de nossa trajetória, a dEle.

   Devolve-nos identidade, anula o caos de dentro de nós pelo efeito da suma ofensa da cruz, carrega nEle o nosso pecado, para sermos portadores nEle de nossa santificação, como nos ensina esse outro verso de mais um hino primitivo:

²⁵ "...o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação." Rm 4.

   Quando Jesus deu a Maria a resposta do limite, ensinava a ela que não se usurpa o lugar que já é seu. Até mães aprendem isso: não são donas dos filhos, pastores não são donos do rebanho e maridos não são donos da esposa.

⁴ "Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora." João 2.

   Somente Deus se esvazia. Somente Deus consegue abrir mão do poder (que somente Ele tem). Torna-se autenticamente homem. Torna-se servo.  Aprende a obedecer, pelo que sofre. E obedecer até à morte. E morte de cruz. A cruz que, definitivamente, aniquila o caos.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Diga não ao outro

 Paulo, aos Gálatas, adverte que não ultrapassem os limites de segurança para outro evangelho. Não existe outro.

  Mas todos que seguimos esse único, cada qual precisa medir a que distância se encontra do original. E Paulo, aos Gálatas, ensina dicas certeiras para se saber como.

  O problema na galácia era a má influência pessoal, religiosa e política de uma liderança judaica que desmerecia a pregação e doutrina de Paulo.

   E não me venham dizer que é problema vencido, porque hoje em dia há quem deseja sanear o evangelho pelo filtro ideológico, como se fosse necessário aprumá-lo.

  Outros elementos podem contribuir para afastar do evangelho, esse mesmo, do original para o outro. Descaso, por exemplo, ou mundanismo, com banho de cultura, ou ainda opção pessoal pelo contraditório, e não pela obediência restrita que o evangelho requer.

   E não digam que, por se considerar adulto, ou com anos de maturidade, ou seja, tempo decorrido de evangelho, seja fácil obedecer. Nunca é fácil e nem é espontâneo.

  Já dizia o autor de Hebreus o modo como o próprio Jesus, ora, veja bem, aprendeu a obedecer: ⁸ "...embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu". Hb 5.

  Cabe a nós, tarefa nossa medir, dia a dia, a que distância estamos situados do evangelho. E não é de modo individualista, mas no corpo e como corpo, quer dizer, na igreja e como igreja.

   Por isso Paulo escreve aos Gálatas. Evangelho não é jornada individualista. Mas como corpo de Cristo. Detalhadamente explicado por esse mesmo apóstolo em outra espístola, desta vez aos Efésios.

   E são as Escrituras o referencial. Trata-se do evangelho nela registrado. E não nos iludamos: Cristo é a garantia viva desse evangelho. E o Espírito Santo quem o faz ser entendido e quem aplica na vida de quem crê.

  E o vivenciamos no mundo, ou seja, expostos e fora da segurança da igreja, para onde Jesus nos envia. Atentos a nosso próprio desempenho. Forças externas há contrárias, surtos internos de distorção também. Somos pecadores regenerados, lutando contra a força do hábito.

  Por isso a luta constante na direção do verdadeiro e único evangelho. Nunca sozinhos. Dentro o Espírito, formando Cristo em nós, para que sejamos imitadores de Deus.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Evangelho sem recortes

 ²⁰ "E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam." Mc 5.

   As cidades são responsabilidade da igreja. Jesus mesmo afirmou aos apóstolos que fariam mais do que ele próprio realizou.

¹² "Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai." Jo 14.

  Acreditem, evangelizar cidades está incluído. E o Metrre deu exemplo, delegando um novo convertido, o gadareno, para fazê-lo em Decápole.

  Isso mesmo. Os radicais "deca + polis" já indicam: eram dez cidades. Como todas, quaisquer, em todos os tempos ou épocas, carentes de pregação do evangelho.

  Interessante Jesus enviar um novato na fé. Sim, de uma experiência brutal. A fama invertida, de endemoninhado incontido, agora bem vestido, sadio e falante.

¹⁵ "Indo ter com Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido, em perfeito juízo; e temeram." Mc 5.

   E ele foi e fez:
²⁰ "Então, ele foi e começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus lhe fizera; e todos se admiravam." Mc 5

   Donde se deduz que Jesus envia a quem quer, capacita, autoriza, mentora continuamente.  Poderia se argumentar, ora, por que Jesus mesmo não pregou na Decápole?

  Porque era tarefa para o novo convertido gadareno. Mas não haveria um problema com a imagem? Um ex-endemoninhado gadareno? A fé vem pelo ouvir.

   Por aparência, diga-se, segundo Isaías o profeta, que nos transmite a descrição mais nítida de Jesus, ele não tinha nem aparência, nem formosura, nem beleza, sendo "um de quem se esconde o rosto".

   Talvez quem esconda o rosto de ver Jesus, cara a cara, é para fugir da autoimagem. Na face de Cristo se vê refletida a santidade que não temos e a deformidade pelo sofrimento do pecado que, esse sim, é tão nosso. E isso é evangelho. 

   Não se rejeita o evangelho pela aparência do pregador. Envergonha-se do evangelho por omissão consciente de não se reconhecer sua importância. Não se faz um recorte do evangelho, sem torná-lo outro, como Paulo denuncia:

⁶ "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, ⁷ o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo." Gl 1.

  Aos Gálatas Paulo denuncia a razão deles de "passar a outro evangelho". Não existe outro. E qual a nossa razão de passar a outro evangelho? Qual o nosso evangelho?

   O evangelho é o poder de Deus. E Marcos afirmou que o primeiro a pregá-lo foi Jesus e chamou-o de "evangelho de Deus":

¹⁴ "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, ¹⁵ dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deusestá próximo; arrependei-vos e crede no evangelho." Mc1.

  Não se recorta das Escrituras o evangelho, arbitrando o que nela se deseja legítimo, falseando-se o contexto de sua principal mensagem.

  Porque é certo dizer ter sido prenunciado  até a Satanás, ainda no Gênesis: ¹⁵ "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Gn 3.

   E atestado em todas as Escrituras, segundo testemunha o próprio apóstolos Paulo: ¹ "Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, ² o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras". Rm 1.

   Então,  deixando de lado a mesma covardia de Jonas, vamos anunciar nas cidades. Ainda que consideremos plenos inimigos todos os que vão ouvir. Sem esquecer que, antes do evangelho, inimigos de Deus todos fomos:

¹⁰ "Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida". Rm 5. E isso é evangelho.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

A conquista de ser bem-aventurado

   ⁵ "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" Fp 2.

  Há um perfil padrão de conduta no contexto biblico. E sem dúvida está delineado na pessoa de Jesus. 

    Porém, ao longo da história bíblica, fosse no Antigo quanto no Novo Testamento, encontramos personagens que tipificam esse modelo.

   Por exemplo, Paulo na carta aos Filipenses expõe Timóteo como modelo de conduta:

¹⁹ "Espero, porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível [...] ²⁰ Porque a ninguém tenho de igual sentimento que, sinceramente, cuide dos vossos interesses [...] ²² E conheceis o seu caráter provado, pois serviu ao evangelho, junto comigo, como filho ao pai." Fp 2.

   Essa é uma descrição precisa dessa personagem. Qualquer obreiro, fosse o próprio Paulo ou quem ele indicasse como apto a substituí-lo seria modelar para todos os cristãos.

   No texto das bem-aventuranças temos um perfil, definido por qualidades em série, cada uma delas tendo Jesus como modelo, que definem o perfil do verdadeiro cristão 

   Elas não são como que promessas de felicidade ou bênçãos para quem tenta nutrir tais virtudes, mas sim o resultado de quem já traz consigo tais características de personalidade.

   A primeira delas, já define o caráter de Jesus  como, de novo aos Filipenses, Paulo indica:

⁵ "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus [...] ⁸ a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." Fp 2.

   A seguinte refere-se ao choro, definido como resposta emocional humana. Nesse caso,  estaria também relacionado ao sentimento de Cristo.

   Estão anotadas três vezes em que chorou: Jo 11,35, sensibilizado pelo sofrimento humano da morte; Lc 19,41-42,  diante da incredulidade de Jerusalém; Hb 5,7-9, pressionado pela necessidade em obedecer a Sua própria vocação. 

  O choro pode ocorrer como resposta a qualquer emoção forte meramente humana. Mas o choro das bem-aventuranças pressupõe o caráter de Jesus.

   Elas seguem definindo os mansos, a fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores, e os perseguidos e injuriados.  Todas essa qualidades de caráter encontramos em Jesus.

   Na profecia de Isaías 53 lemos sobre a resposta de Jesus a toda a afronta que sofreu:
⁷ "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca." Is 53.

  Em Mc 6,6 Jesus se admira em constatar incredulidade, assim como em Jo 13,1 demonstra a intensidade de seu amor. E sua principal característica como limpo de coração está atestada em Rm 1:

⁴ "...e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor".

   As qualidades de Jesus nos parecem óbvias.  Mas para vê-las em nossa própria vida teremos um luta pessoal interna contra nós memos. E seremos assim se uma vez convertidos a Jesus, batizados em Sua morte e ressuscitados nEle. 

   Deparamos quem somos. E quem Deus deseja que sejamos. O clamor de Jesus na cruz, rogando ao Pai que perdoasse a todos que o crucificavam, é a maior prova de seu caráter pacificador.

³⁴ "Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lc 23.

   Quanto à perseguição e a injúria, mais ainda caracterizam a vida de Jesus. Conduzem-no à cruz e serão a marca de todos os que creem nEle.  Em Jo 15 Jesus menciona o ódio de que seremos alvo todos os que nEle cremos.

   A maior felicidade reside em quem põe em Jesus a sua fé. E por Ele é transformado à sua imagem e semelhança. 

    Terão com Jesus comunhão em todas as situações, partilham de Seu sentimento, agregam Suas virtudes e, certamente, vencerão o mundo por Sua fé,  ainda que sejam perseguidos e injuriados. 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Elias, o velho, e a visão de Deus

 ¹¹ Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; ¹² depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave." 1 Rs 19.

   Elias se viu no fundo de uma caverna, equivocado três vezes, confundindo fenômenos rotineiros, ainda que bruscos, da natureza, com manifestações divinas.

  Aprendeu que, quando tudo estava em plena normalidade, Deus, como sempre, esteve presente.  Parece óbvio, mas é costumeiro tentar definir, para Deus, seus modos de ser e agir.

  Elias, já idoso nesse tempo, teve um intenso ministério. Aliás, o exercício de sua fé, até para ele mesmo, foi supreendente.

   Muito interessante o comentário que Tiago faz desse profeta:
¹⁷ "Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu." Tg 5.

   Portanto, um homem comum, com seus conflitos comuns e, como é corriqueiro, mas somente para quem crê, em conflito com sua própria fé.

   Talvez tenha sido tão intensa e urgente sua atuação, quanto às emergências que enfrentou em seu ministério, que nem tenha parado para refletir, teorizar, sobre fé.

  Então, num momento de crise máxima, mas como também acontece num período de crise mínima, ou seja, aparente apatia, surge uma crise de fé.

  Então Elias queria um Deus segundo o perfil imaginado por ele, quem sabe até definido pela história de seu desempenho pessoal, pois se uma vez até caiu fogo do céu, tempestade, terremoto e furacão tem de ser manifestações do Deus.

  Nada. Tédio. O mesmo. Fica em silêncio, Elias, apático, não pense em nada, somente ouça ao redor, quem sabe o som do grilo, na noite de sua caverna.

   Deus sempre esteve. Igual a Agar:
¹³ "Então, ela invocou o nome do Senhor, que lhe falava: Tu és Deus que vê; pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê?" Gn16.

  Deus não de define pela flutuação ondulante de um gráfico senoidal, não dá para aparecer na tela silk-screen um ícone qualquer que indique algum sinal.

  Os sinais são outros. Talvez a planura mansa das águas após Jesus ordenar que tudo se aquietasse.  Ou a experiência de treino do fuzileiro naval, na pior das tempestades em alto mar, quando o instrutor manda então mergulhar, para somente então sentir tudo manso.

   Ainda que idoso Elias, amedrontado e em fuga, como um Jonas na vida, talvez também deprimido, Deus está e Deus vê. Para Ele, não existe flutuação de sinal. 

terça-feira, 1 de julho de 2025

Afinal, que Deus queremos?

 O grau de credibilidade conferida ao texto biblico define a personalidade do Deus que adotamos. Se for distorcida, não  será novidade, porém uma forma a mais de idolatria.

  É irremediável. Tenha Deus participação no que vai escrito ou apenas piedosos autores tenham imaginado assim, o Deus que se desenha se prende a toda a tecitura do texto, fatos, diálogos e milagres.

   Se não pôde, enfim, abrir o Mar Vermelho ou guiar os nômades no deserto, tudo se reduz a uma espécie de mitologia, por meio da qual se deseja conduzir à fé, ou se validar uma opção preferencial pelo povo judeu.

   O pai que conta histórias bíblicas ao filho, exercitando sua imaginação, ilude a criança. Não  se deseja,  por esse argumento, prova comprobatória. Apenas supor que os textos devem servir somente para isso, fáceis de se entender, ao alcance de crianças.

  Porém o Deus revelado não será objetivamente o personagem por detrás delas. Há uma necessária depuração de especialistas, sem a qual nunca se conhecerá, verdadeiramente, a excelsa e divina personalidade. 

   Que feitos ou fatos narrados se sugere ter esse Deus, efetivamente, realizado? Serão esses que os textos descrevem? E os declarados milagres, desacreditados ou não, seriam meramente admitidos como ficcionais?

   Por exemplo, como seria Abraão confirmado "pai da fé", sem essa saga geográfica e historicamente reconhecida? Os diálogos de Deus com seu amigo, apenas contêm beleza e maestria, porém as personagens são ficcionais (bem, pelo menos Deus, espera-se, não seja)?

  Seriam as Escrituras apenas uma obra ficcional de grande envergadura, à espera de mentes lúcidas em alto grau que decifrem o enigma por detrás desses ensaios literários?

   Trata-se de genial tecitura literária humana, sem nada de inspirado, revelando a identidade de que Deus, mesmo porque até os diálogos são fictícios?

   Nada é direto. Quando lido "No princípio criou Deus", trata-se de um narrador expressando sua fé, detalhando como a personagem divina de sua ilustre ficção cumpre sua agenda criadora.

   E quando a personagem diz a Abrão "Sai da tua terra e da tua parentela", trata-se de uma nova personagem, agora movida por uma intenção divina de fazê-lo migrar e se tornar peregrino.

   Se é personagem histórica, quase nada dele sabemos, porque terá sido envolvido como que num glacê cultural judaico de uma saga que confere personalidade a esse povo. 

   Não sendo uma personagem histórica, trabalhe-se toda a ficção, apenas como peça literária. Define-se, evidente, um perfil de Deus, a quem crer e adorar. Um Deus ficcional, ora, para uma fé idem.

   Que Deus queremos? Pode ser uma pergunta. Há uma presença autoral, subjacente, porém desconhecida. Aumentou-se, aqui e ali, com tradição oral, noutras vezes escrita, com registros em material da época. Mas que época?

   Épocas o quanto próximas dos fatos narrados? Ou distantes em que contexto mais recente? Há intenção divina a lhes inspirar? Afinal, seria possível Deus assim proceder? Afinal, o que seria possível para Deus?

   Há, no ser humano,  uma luta íntima em reconhecer a fronteira do que está para além dele. Uma vez diante de sua própria razão, avaliar o agir de Deus. Seria o homem diante da sua razão e Deus diante da dEle.

   Que milagres? O perigo sempre será a vocação idolátrica do ser humano, qual seja, ao final das contas, o que ele mesmo avalia como permitido ao Deus que supõe existir fazer, ser, realizar.

  É tão óbvia a potência de Deus em falar ao homem, amá-lo intensamente, dirigir-lhe a vida, porpor-lhe escolhas, enfim, entregar-se, como homem, numa cruz, depois de encarnar-se num corpo de mulher que, até para quem se aventura a crer, a fé se revela hesitante.

   Que limites impor a Deus? Se Ele entra na história, digam então o que pode e não pode, o que, enfim, ser-lHe-á permitido ou não realizar? Poderá falar com ou ao homem ou mulher que criou? Poderá agir, a Seu modo, de modo que classifiquemos isso como milagre?

   Que Deus queremos? Afinal, a iniciativa é dEle? Sabemos, porque Se revelou? Ou constru(ímos)(íram) esse Deus? Vai se saber. Por isso prefiro o Deus das Escrituras, tais quais se me apresentam.

 Esse menino que ouviu do pai as histórias sou eu. Certa vez, um professor, ironizando sobre tradições orais que conferissem, às Escrituras, essa sua sequência de narrativas, perguntou se eu achava mesmo ter Isaque sentado ao colo de Abraão para ouvi-lo falar de Deus.

  Está aí minha resposta. Deus pode. Somos nós esses meninos. 

domingo, 22 de junho de 2025

Para ver, saber e conhecer o amor

 ⁴ "Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa." Os 6.

   A pergunta de Deus é como se estivesse num dilema. Porque Efraim rejeita o amor de Deus.  Aceitar o amor é se converter.

  O profeta faz esse apelo:
⁵ "O Senhor, o Deus dos Exércitos, o Senhor é o seu nome; ⁶ converte-te a teu Deus, guarda o amor e o juízo e no teu Deus espera sempre."  Os 12.

  Definitivamente, Deus ama. E revela emoção. A primeira lição sobre amor é que Deus nele sensibiliza-se. O profeta volta a nos revelar:

⁹ "Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira." Os 11.

   O dilema de Deus é o dilema de amar. Deus é amor. Esse dilema se aplica a todos,  indiscriminadamente. A fala a Efraim é a fala a cada um:

⁴ "Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer ." Os 11.

   Mas Efraim tem de se converter. Senão, o pecado a destrói. E pecado é distância de Deus. Nem física, porém espiritual.

  Quem dizer que não se mede por unidade de medida. O único antídoto para isso é comunhão. Com Deus, ou existe comunhão ou não existe.

  E o lugar dessa comunhão chama-se igreja. De novo, não fisicamente igreja. Mas espiritualmente igreja. Se não, não é igreja.

   Igreja é um lugar de comunhão. Um lugar de amor. Não dá para saber do que significa amor, fora da igreja.

   Deus põe na igreja para se viver intensamente. Se, por acaso, virar simulação, não será nunca igreja. Não será Deus, mas perda de amor e perda de comunhão.

  O risco da igreja em Éfeso.

² Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; ³ e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer" Ap 2.

  Muito provavelmente, uma igreja soberba. Paulo afirmou, em sua carta, quase 40 anos antes dessa, de Jesus, que o amor excede todo o entendimento.

  Como se fosse intuitivo. Mas exatamente, espiritual. Porque o Espírito o derrama em nossos corações, ao mesmo tempo que é amor fruto do Espírito.

  Tentar transformar em saber, ensoberbece também:

¹ "O saber ensoberbece, mas o amor edifica. ² Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. ³ Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele." 1 Coríntios 8.

  Não é voluntário amar. É mandamento, por isso inseparável de obedecer. E isso não é natural em nós.  Não é espontâneo.

  Amar implica morrer e nascer de novo. Por isso, Deus chama Efraim à conversão. Por isso Jesus disse a Nicodemos:

⁷ "Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo." João 3.

   Começa no novo nascimento. Amor não existe antes de nascer de novo. Demole-se, para reconstruir. Paulo a Tito denomina:

⁴ Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, ⁵ não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, ⁶ que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador". Tito 3.

   Paulo passou por esse processo, de inimigo a amigo de Deus, de amor nulo a amor pleno.  A Caim, foi proposto. Deus o procurou, para trazê-lo para si.

  A samaritana,  de volta aos amigos, que perguntaram pelo cântaro,  ela disse que havia saciado a sua sede. Eles estranharam.

   Então ela disse: "Encontrei Jesus: será ele o Messias?" Até Judas, sim, o traidor, não estava predestinado a ser. Não existe predestinação para o não amor. Existe predestinação de toda a humanidade para a cruz.

   Nela e por ela se faz opção. Na cruz e pela cruz se manifesta todo o amor.

⁸ "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.
⁹ Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. ¹⁰ Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida". Rm 5.

Nela Jesus crava e anula todo o escrito de dívida do pecado, tornando-nos aceitáveis diante de Deus.

¹³ "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; ¹⁴ tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; ¹⁵ e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz." Cl 2.

    Vitória total e completa que nos torna participantes da glória de Deus:

⁹ "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; ¹⁰ ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado. Jo 17.

¹¹ "Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé, ¹² a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 1.

   Na oração sacedortal Jesus sinetisa o seu ministério e, ao final, indica como o ministério da igreja é expor, anunciar e ser modelo do amor de Deus que nela está:

²⁶ "Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja." Jo 17.

  Jesus indica nela como 1. a igreja recebe da palavra de Deus; 2. como nela é santificada; 3. como nela a comunhão é vocação e identidade; 4. como a igreja glorifica Jesus; 5. como nela está presente e tipificado o amor.

domingo, 15 de junho de 2025

Antes de Missões

 ²⁰ "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; ²¹ a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste." Jo 17.

   Na chamada oração sacedortal Jesus como que apresenta uma síntese de seu ministério, do mesmo modo que desenha, para a igreja, uma síntese do ministério que ela vai herdar.

   A igreja fica como substituta de Jesus. Algo somente concebível ao nível divino de concepção e somente exequível ao nível Trindade de desempenho.

   Paulo, aos Efésios, afirma que Jesus é uma dádiva à igreja:

²² "E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, ²³ a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas." Efésios 1.

E aos Tessalonicenses 2, afirma o mesmo que Jesus nessa oração, que a igreja é a glória de Jesus:

¹² "...a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." 2 Ts 1.

   Em Atos está descrita a ascensão de Jesus, quando os discípulos, numa inversão de prioridades, desejam saber quando, em termos humanos, as preferências políticas se alinhariam.

   A diferença entre reino de Deus e reino dos homens. A prioridade de Jesus é a outra e, pelo Espírito Santo, profeticamente prometido e derramado, os discípulos, que ali representam toda a igreja, entendem o que é ser testemunha de Jesus.

   A igreja não tem como missão angariar seguidores, demarcar marketing, sanear a sociedade, governar o mundo. Jesus torna explícito, numa sentença:

⁸ "...mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhastanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra." Atos 1.

  Conhece Jesus? É meu irmão mais velho. Tenho dEle o DNA de sangue. Mas a virtude é toda dele. O que fez a mim, quer fazer ao mundo todo. Seu amor é sem igual.  Mas sempre compartilhado.

   Qual o efeito da comunhão com Deus? A perfeita, somente Jesus a tem. Aliás,  a Trindade dela priva. Podemos compreender as pefeições e a identidade deles três como efeito dessa comunhão, a mesma que desejam tenhamos com Eles.

   A comunhão com Deus não é retórica. Nem fantasiosa ou simulada. Deus realiza a comunhão. Ele se mistura a nós. A mediação do sangue de Jesus Cristo é perfeita e santifica suficientemente.

²² "...agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Cl1.

   A igreja é o lugar real, geográfico, prático e vivencial dessa comunhão. Não fomos nós que nos escolhemos ou que escolhemos uns aos outros. Deus escolheu.

¹⁶ "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda." Jo15.

  E a nós foram entregues os recursos para vivenciar essa comunhão. A igreja de Atos, em seu começo,  exercia variadas atividades de comunhão:

⁴⁴ "Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. ⁴⁵ Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. ⁴⁶ Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, ⁴⁷ louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos." Atos 2.

   E Paulo exorta aos Efésios ser uma parceira com o Espírito,  preservada com diligência, visto que, por nós mesmos, com a munição do velho homem, ou ainda por ação dos demônios, será quebrada.

¹ "Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, ² com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, ³ esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz". Ef 4.

   Missões foi entregue à igreja. A capacidade de vivenciar a comunhão autêntica foi entregue à igreja. O amor foi revelado e derramado na igreja. Enfim,  Jesus Cristo foi entregue à igreja.