Pastores devem pregar sobre política? É apropriado fazê-lo? Devemos, de fato, entrar nesse campo? E, se sim, como fazê-lo de maneira adequada? O que caracterizaria uma forma eficaz, biblicamente fundamentada e teologicamente refletida de pregar sobre política? E será que realmente devemos fazê-lo?
O que apresento aqui não é uma posição autoritativa ou universalmente válida, mas um conjunto de reflexões e encorajamentos para serem considerados enquanto você lida com essas questões dentro do seu próprio contexto. Cada pastor enfrentará seus próprios desafios ao discernir o que deve ou não ser dito, e ao decidir como conduzir seu povo no engajamento político.
Meu propósito é oferecer algumas perguntas críticas que sirvam como guia para a reflexão e ajudem a pensar mais profundamente sobre esse tema complexo. Que estas reflexões funcionem como um recurso e um ponto de partida para uma consideração mais ampla, pois este não é um assunto simples ou direto. É, na verdade, profundamente complexo.
Perguntas iniciais
Para começar, é preciso levantar algumas perguntas fundamentais. Qual é o papel do pregador? Qual é o papel do sermão? E qual é o papel da igreja como instituição? Em que sentido o pregador difere de um político ou de um ativista social? O que distingue um sermão de um discurso político? Podemos realmente afirmar que há diferença? E, se há, como descrevê-la de forma clara?
Compreender e articular essas distinções é essencial. Também devemos perguntar: qual é o papel da igreja? Em que ela se diferencia de uma organização política? E como podemos expressar essas diferenças de maneira fiel às Escrituras e coerente com a teologia cristã?
Essas perguntas retornarão ao longo de toda a discussão. Meu objetivo é explorar ambos os lados da questão central. Devemos pregar sobre política? De um lado, há um “sim” enfático; do outro, um “não” igualmente forte. Apresentar o tema dessa forma permite manter certa distância pessoal do debate, enquanto exponho o que considero os argumentos mais consistentes de cada perspectiva, ajudando você a discernir, com clareza, suas próprias decisões no exercício da pregação.
Devemos pregar sobre política: 7 norteadores positivos
Comecemos pela primeira posição: sim, os pastores devem pregar sobre política. Na verdade, é um dever fazê-lo.
O primeiro motivo é que a própria Escritura é política. Em toda a Bíblia encontramos reflexões sobre poder, justiça, reis, opressão, violência e guerra. Quem prega fielmente a Escritura não tem como evitar o tema político, pois o texto bíblico está inserido em um contexto político. Ao pregar sobre o Êxodo, é impossível não falar de Faraó e da escravidão dos israelitas. Ao pregar sobre os Evangelhos, é inevitável mencionar Roma e Herodes. E, ao lidar com os profetas, é necessário tratar da corrupção e da injustiça no comércio e no governo. Ignorar essas realidades políticas é deixar de lado uma dimensão essencial da Palavra. A primeira razão, portanto, é que a Bíblia fala, do início ao fim, de realidades políticas. O tema percorre praticamente todas as suas páginas.
A segunda razão é que o próprio Deus é político. Ele se envolve com a vida das nações e dos governantes. Deus se importa com a justiça e impõe exigências aos reis. O Salmo 72 retrata com clareza a bênção, o cuidado e as expectativas divinas em relação aos governantes e à forma como conduzem o povo. De Gênesis a Apocalipse, Deus é apresentado como aquele que se interessa pela justiça pública e ouve o clamor dos oprimidos. Se Deus é político e se a Escritura é política, então a pregação, que lida diretamente com ambos, não pode se manter distante desse assunto.
Terceiro, o amor ao próximo é político. Como seguidores de Jesus, somos chamados a amar o próximo. Amar a Deus implica amar aqueles que foram criados à sua imagem. No entanto, hoje, os portadores dessa imagem são frequentemente ameaçados ou feridos pela injustiça e pela tirania políticas. É impossível amá-los de forma autêntica permanecendo em silêncio diante dos sistemas que os oprimem. O engajamento político e cívico é uma expressão concreta do amor cristão. Toda pregação que conclama o povo a amar o próximo inevitavelmente tocará em realidades políticas, porque é justamente nesse campo que tal amor precisa ganhar forma.
Quarto, a pregação precisa dialogar com o espaço público. Em períodos eleitorais, a mente e o coração das pessoas estão tomados por preocupações políticas. Elas pensam sobre essas questões, oram por elas, sentem ansiedade diante delas. Ignorar isso no púlpito faz com que a pregação pareça desconectada da vida real. O culto de domingo se transforma, então, em um exercício de negação da realidade. Com o tempo, isso deforma a fé, levando os fiéis a acreditar que ela pouco tem a ver com o mundo concreto. Uma pregação que se recusa a reconhecer os acontecimentos públicos ensina, ainda que indiretamente, que o evangelho não tem relevância para as preocupações do mundo.
Quinto, precisamos resistir à tendência de espiritualizar e privatizar o cristianismo. O evangelho não trata apenas de sentimentos pessoais ou crenças privadas. A fé cristã é pública. Jesus não é apenas o meu Salvador particular, que habita no coração do crente; ele é o Senhor e Salvador de toda a criação. Voltará em glória, assentado em um trono, reinando como o Rei da justiça, da paz e do shalom. Todas as coisas serão reconciliadas nele. A glória das nações será trazida à nova Jerusalém. A obra redentora de Deus abrange toda a criação, que geme em expectativa pela renovação. Não podemos reduzir Jesus a um companheiro espiritual íntimo quando ele é o soberano e redentor de todas as coisas.
Em sexto lugar, a injustiça exige resposta quando as pessoas sofrem. Quando os feridos são, em especial, os fracos e marginalizados, os cristãos têm o dever de levantar a voz em favor deles e de defender os vulneráveis. Permanecer em silêncio diante do sofrimento dos oprimidos é, em si, uma forma de conivência com o mal.
Por fim, o pregador carrega um chamado profético para se pronunciar. Essa é parte da identidade cristã, pois seguimos aquele que é profeta, sacerdote e rei, e que nos convida a participar de sua missão. Ser cristão inclui esse aspecto profético: falar a verdade e lançar luz sobre as trevas. E há, sem dúvida, muita escuridão no campo da política.
Não devemos pregar sobre política: 8 norteadores negativos
Agora consideremos o outro lado. Há boas razões para evitar pregar diretamente sobre política ou, ao menos, para fazê-lo com extrema cautela. Isso torna a questão mais complexa, mas tais complexidades são necessárias.
O primeiro problema é o da limitação do conhecimento. Muitos assuntos políticos são intrincados, exigindo preparo técnico que a maioria dos pregadores não possui. Será mesmo adequado tratar, do púlpito, de políticas de comércio internacional ou da estrutura detalhada de um sistema de assistência social? Você realmente sabe como organizar um sistema de saúde para milhões de pessoas? Essa é a sua área de estudo? Como pregadores, precisamos reconhecer para o que fomos formados — e admitir que especialistas em política, economia e administração pública receberam um tipo de preparo que nós não temos. É necessário refletir sobre o campo em que, de fato, somos competentes e reconhecer, com humildade, que não sabemos tudo. Nosso estudo é teológico, não em relações internacionais, finanças ou políticas públicas. Reconhecer esses limites é um ato de sabedoria e de respeito para com outros cristãos que possuem competência nessas áreas.
Para ilustrar, imagine pregar um sermão sobre poesia em que você decide quais poetas são bons ou ruins, instruindo a congregação sobre o que deve ser lido e como cada poema deve ser interpretado. Agora imagine que, entre os ouvintes, há cinco professores de literatura e poetas profissionais. Como eles se sentirão ao ouvi-lo falar com tanta segurança sobre algo que você claramente não domina? O mesmo ocorre quando falamos de política sem o devido entendimento. Você pode estar plenamente convencido de que a Escritura nos chama a cuidar dos pobres (e ela de fato o faz), mas propor planos concretos para erradicar a pobreza global, munido apenas de um bacharel em teologia e sem base sólida em economia, é um caminho rápido para o constrangimento.
O segundo problema é o da limitação da autoridade. Mesmo que o pregador tenha lido extensamente sobre determinado tema político, isso não lhe confere automaticamente autoridade para declarar, do púlpito, o que o Senhor diz sobre ele. Qual é, afinal, o papel do pregador? Ele recebeu autoridade divina para proclamar “assim diz o Senhor” a respeito de uma política pública específica? Essa pergunta toca o cerne da vocação pastoral. É preciso discernir o limite entre a autoridade legítima do pregador, que deriva do evangelho, e a autoridade que pertence aos líderes políticos ou aos especialistas em políticas públicas.
Outro problema é o moralismo e a condescendência. A pregação moralista é fácil de reconhecer, e tende a aparecer com frequência entre pregadores jovens. Ela se manifesta em uma sequência de imperativos: “Precisamos fazer isso.” “Você deve agir.” “A igreja tem que se envolver mais com aquilo.” Esse tipo de pregação transforma o cristianismo de uma mensagem de graça, redenção e transformação em um sistema de regras e exigências. Rapidamente assume um tom de superioridade, como se o pregador falasse de cima para baixo, em vez de convidar o povo a participar da visão vivificadora do evangelho. Mesmo quando consegue motivar ações concretas, faz isso pelos motivos errados (culpa, medo ou dever) e não pela alegria e gratidão que nascem da graça.
A quarta preocupação é a da formação e da preparação. Ao longo da semana, as pessoas da igreja são moldadas politicamente por programas de rádio, canais de notícias e redes sociais — quase sem pausa. Essa formação, ou deformação, exercida pelo mundo é intensa. Quando chegam ao culto no domingo, já foram discipuladas pelos caminhos políticos da cultura. E então o pregador tem diante de si cerca de vinte minutos. O que é possível realmente desfazer nesse tempo?
A verdadeira formação não acontece em um único sermão, nem mesmo em uma breve série sobre política. Leva anos de pregação fiel à graça, à verdade e à justiça de Jesus Cristo para que a imaginação política das pessoas seja renovada. Não se deve esperar que um sermão transforme convicções políticas. Na realidade, a maioria dos ouvintes não entra na igreja disposta a mudar politicamente, e a pregação dificilmente cumpre bem essa função. O sermão é um instrumento frágil para alterar opiniões políticas.
Ligado a isso está o problema da imaginação. A tarefa de um grande sermão é abrir o horizonte do ouvinte, mostrar o que Deus está fazendo no mundo e convidá-lo a participar dessa obra. A pregação deve ajudar as pessoas a enxergar um mundo mais amplo, marcado pela graça, pelo amor e pela redenção. A pregação política, porém, muitas vezes faz o oposto. Em vez de expandir a imaginação, ela a estreita. Direciona o olhar para partidos e ideologias, em vez de conduzir à visão mais ampla de Deus. O papel do pregador é cultivar uma imaginação moldada pelas Escrituras, que permita ao povo discernir por si mesmo o que significa responder com fidelidade. Quando o sermão se prende à política, essa abertura imaginativa costuma se perder.
O sexto problema é a divisão dentro da congregação. Muitas igrejas hoje estão profundamente polarizadas, e a pregação política pode facilmente acentuar essa fratura. O pregador precisa, então, se perguntar: qual é o meu chamado? Fui chamado a falar profeticamente, custe o que custar, mesmo que a igreja se divida? Ou fui chamado a ser um agente de reconciliação, convidando os dois lados a se aproximarem das Escrituras e a refletirem juntos? Cabe a mim transformar politicamente esta congregação ou chamá-la de volta à Palavra e à cruz, exortando todos a deixarem seus ídolos políticos diante de Cristo?
Também é importante considerar o exemplo da igreja primitiva. Os primeiros cristãos não eram ativistas políticos no sentido moderno. Paulo não liderava marchas em Éfeso ou Corinto, nem fundava partidos ou conspirava para derrubar o Império Romano. A política não era o centro de sua missão. Eles cuidavam dos pobres, das viúvas e dos marginalizados; liam as Escrituras, oravam e partilhavam seus bens. A igreja primitiva não se definia por lealdades políticas, mas pela fidelidade a Cristo.
Por fim, é preciso lembrar que, ao lado do chamado profético, o pregador também possui um chamado sacerdotal. O sacerdote reconcilia, media e cura por meio da Palavra. Ambos os papéis, o profético e o sacerdotal, são indispensáveis. O pregador deve aprender a manter unidos o falar da verdade e o ministério da reconciliação, discernindo o momento de confrontar e o momento de restaurar.
Algumas outras considerações
O que procurei expor até aqui são razões legítimas para a pregação política e, em contrapartida, advertências que merecem séria consideração antes de segui-la. Não pretendo ter resolvido essa questão, mas espero tê-la tornado mais complexa e, portanto, mais realista. Mas ainda há alguns pontos que merecem reflexão.
Vale voltar à vocação do púlpito e do banco da igreja. Um dos riscos da pregação excessivamente zelosa em assuntos políticos é esquecer o papel da congregação. O povo de Deus também carrega uma responsabilidade política autêntica. Não cabe ao pregador “corrigir” politicamente as pessoas. Seu chamado é proclamar a Palavra de Deus e convidar a comunidade a participar da missão divina por meio dessa Palavra. A partir daí, os ouvintes são chamados a responder, a lutar com essa mensagem e a discernir como a obediência ao evangelho se manifesta em sua vida pública.
A pregação envolve dois agentes, não apenas um. Algo essencial se perde quando o pregador assume sozinho toda a responsabilidade política da igreja. O povo no banco faz parte do sacerdócio de todos os crentes. Eles também têm agência política e precisam responder fielmente às Escrituras dentro de seus próprios contextos. O pregador não pode carregar esse peso sozinho. A responsabilidade pertence a ambos, ao púlpito e à congregação. O púlpito não pode fazer o trabalho pelo povo.
Outro ponto importante é o que chamo de abraçar o negativo. Quando/se você decidir tratar de política em sua pregação, concentre-se no que deve ser denunciado, e não no que deve ser apoiado. Em vez de endossar políticos, partidos ou políticas específicas, identifique aquilo que está fora dos limites da vida política à luz das Escrituras.
Como pregador, você pode falar com autoridade sobre o que a Palavra de Deus claramente condena: o medo, o ódio, a ganância, o egoísmo, a negligência para com os pobres, o desprezo pelos enfermos e a opressão aos estrangeiros. Pode afirmar, com segurança, que essas coisas não têm lugar entre o povo de Deus. Não é necessário dizer “devemos apoiar o projeto de lei 579” ou “votem em determinado candidato”. O púlpito não existe para prescrever soluções detalhadas, mas para nomear os males que contradizem o reino de Deus.
Por exemplo, você pode dizer: “É uma tragédia que pessoas durmam nas ruas sem abrigo.” A partir disso, pode convidar a congregação a refletir sobre essa realidade e a discernir como responder a ela com fidelidade cristã. O papel do pregador não é resolver o problema, mas despertar a igreja para enxergá-lo e enfrentá-lo à luz do evangelho.
Faça perguntas políticas que perturbem e convidem seu povo à reflexão. Nomear, por exemplo, o problema da falta de moradia em sua cidade, reconhecer que ele cresce a cada ano, deveria nos inquietar. Deus nos convida a lutar com essa realidade. É isso que o pregador pode fazer: permitir que as implicações políticas do evangelho incomodem e provoquem a comunidade, levando-a a refletir sobre essas questões. Convide as pessoas a assumirem sua própria responsabilidade política, em vez de dizer o que elas devem pensar ou como devem pensar.
Tenha respeito pelas organizações paraeclesiásticas e pela sociedade civil. Reconheça que a igreja não precisa resolver todas essas questões sozinha. Existem instituições que trabalham arduamente nessas áreas. Talvez um grupo em sua igreja se importe profundamente com refugiados e queira que a comunidade se envolva em ações de defesa e acolhimento. Criar um ministério voltado a isso pode ser apropriado, mas também é possível cooperar com organizações cristãs já dedicadas a esse trabalho. Não há necessidade de começar tudo do zero.
Há excelentes organizações cristãs sem fins lucrativos que atuam nesse campo. O fato de sua igreja não possuir um ministério próprio para refugiados não significa falta de compaixão, mas pode simplesmente indicar que ela opta por apoiar quem já está servindo com competência nessa área. É importante reconhecer e valorizar o esforço de outros cristãos que já estão engajados nessas causas. E, se membros de sua igreja se sentem chamados a uma atuação política mais direta, há muitas organizações cristãs nas quais eles podem se envolver e investir seus dons. Sua igreja não precisa se tornar uma entidade política para que isso aconteça.
Cuidado com a política identitária. O termo é amplamente usado hoje para descrever como as opiniões e compromissos políticos das pessoas se tornaram profundamente ligados ao senso de quem elas são. Por isso, os debates políticos ganharam um peso existencial. Muitos se tornaram cada vez mais frágeis diante de conversas sobre política, acreditando que, se o outro lado vencer, sua própria identidade estará ameaçada. Desse modo, o partido oposto destruirá não apenas suas ideias, mas destruirá você como pessoa a todos que se parecem com você.
A política de identidade amplifica a importância de cada eleição e de cada tema, transformando tudo em urgência. Daí o refrão constante: “esta é a eleição mais importante de nossas vidas”. Essa retórica nasce da fusão entre identidade pessoal e convicção política. Quanto mais essas duas dimensões se confundem, mais difícil se torna manter conversas racionais sobre questões práticas como o imposto sobre herança ou o financiamento das escolas públicas. A distância entre identidade e política está desaparecendo.
Cada vez mais, a política se torna a principal fonte de sentido para muitas pessoas. À medida que parte da população se afasta das formas tradicionais de religião, onde antes encontrava propósito, pertencimento e significado, essas necessidades passam a ser preenchidas pela identidade política. Isso significa que, ao desafiar uma posição política em um sermão, a reação pode ser intensa, até existencial, porque aquilo que é questionado já não é apenas uma ideia, mas o próprio sentido de quem a pessoa é. O pregador precisa estar ciente dessa dinâmica ao falar sobre política.
Cuidado também com os perigos do moralismo. Já mencionamos esse ponto, mas vale reforçar. Falar de forma superior, dizendo às pessoas o que fazer, como pensar ou, de modo ainda mais sutil, como se tornar mais parecidas com você, é arrogante e contraproducente. Pior do que isso, enfraquece moralmente os ouvintes. Quando as pessoas apenas recebem ordens, não são convidadas a refletir, a examinar as Escrituras ou a lutar com o texto dentro de suas próprias famílias e comunidades. Seu discernimento moral se atrofia, porque foram faladas de cima, e não chamadas a participar do diálogo com a Palavra. O chamado principal do pregador é convidar o povo a entrar na Palavra de Deus e a participar da missão divina por meio dela — não ditar conclusões prontas.
Pergunte-se sempre: quem é o meu povo? Quão maduros eles são? O quanto conseguem suportar e compreender? Você pode estar certo no conteúdo do que diz, mas, se sua congregação não está pronta para ouvir, isso não fará diferença. Então pergunte: eles estão maduros o bastante para escutar isso? São capazes de suportar o peso do que será dito?
Pergunte também: isto é uma emergência? Preciso realmente me pronunciar? Reflita se o púlpito é, de fato, a única voz disponível. Durante o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, a comunidade negra vivia sob leis segregacionistas e racismo sistêmico. Nessa realidade, o púlpito era um dos raros espaços públicos onde havia alguma liberdade. A igreja era uma das poucas instituições que existiam com relativa independência do controle branco. Por isso, o pastor acabava sendo não apenas o pregador da Palavra, mas também o líder social e político. Em muitas cidades, grupos de pastores serviam como porta-vozes da comunidade negra ou como mediadores entre ela e as autoridades.
Quando o púlpito é o único espaço em que Cristo ainda tem voz pública, torna-se essencial que ele fale. Nesse contexto, era inevitável que pastores afro-americanos liderassem seu povo. Então é preciso perguntar: estou em situação semelhante? Minha igreja é a única voz capaz de se pronunciar? Estou diante de uma emergência que exige de mim um papel de liderança política? Ou há outras organizações e líderes cristãos atuando nessas questões, aos quais posso direcionar minha comunidade?
Ao longo da história, teólogos refletiram sobre emergências desse tipo, como o apartheid na África do Sul e a ascensão do nazismo na Alemanha, momentos em que o fascismo, o comunismo ou o racismo corromperam de tal forma as estruturas de poder que a igreja se tornou o último bastião de resistência. Nessas circunstâncias, os teólogos e éticos cristãos concordam que o pregador tem o dever moral de falar. São momentos em que outras formas de discernimento falharam, e o púlpito não pode permanecer em silêncio.
Por isso, é preciso se perguntar honestamente: estou vivendo um desses momentos? Esta é uma emergência em que preciso me tornar a voz política da minha comunidade? Essa é uma pergunta que ninguém mais pode responder por você.
Continue perguntando a si mesmo como cidadãos cristãos são formados para além do púlpito. O discipulado amadurece ao longo de uma vida inteira — não apenas por meio de sermões, mas também em grupos pequenos, estudos bíblicos, refeições compartilhadas, mentoria, oração e convivência. Um cidadão cristão — um agente político fiel — não é moldado por algumas pregações sobre política, e sim pela participação em uma comunidade densa e em um modo de vida moldado pelo evangelho como justiça e paz. A formação cristã é lenta e comunitária. Não pode ser reduzida a um pregador falando diante do povo semana após semana. O processo é demorado, e o sermão não deve carregar sozinho o peso do discipulado político. É preciso olhar além do púlpito.
Por fim, quando o assunto é pregar sobre política, o objetivo deve ser conduzir as pessoas a uma política voltada para o outro. Cristãos se envolvem na vida pública não por interesse próprio, mas pelo bem do próximo. Um sermão nunca deve convocar à ação política para proteger os interesses da igreja ou aumentar seu poder. O engajamento político cristão deve ser essencialmente generoso, voltado ao bem comum e ao florescimento do próximo. O sermão deve chamar o povo a agir e votar pensando no outro, na cidade e na vida que compartilham juntos. Como diz Jeremias 29: “Busquem o shalom da cidade para onde eu os levei.”
Essa deve ser a direção e o convite de toda pregação política. Espero que esta reflexão tenha sido útil, que tenha tornado o tema mais complexo e, assim, mais fiel à realidade, e que desperte em você novas perguntas e um exame mais profundo sobre o chamado do pregador e do sermão como um ato profundamente político, que convida o povo de Deus a uma imaginação pública moldada pelo evangelho.
Matthew Kaemingk (PhD) é um premiado autor, palestrante e teólogo público. Seu trabalho aborda questões de ética cristã na política, na cultura e no mercado. Ele atua como professor de teologia pública no Seminário Fuller, onde dirige o Instituto Mouw de Fé e Vida Pública.
Veja na net:
https://institutoschaeffer.com/pastores-deveriam-pregar-sobre-politica-em-suas-igrejas/

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