Trecho do opúsculo devocional
"Cuidado com o alemão", Tiago Cavaco
Jonas nos defronta. Porque, como ele, desejamos o comodismo. Ao contrário da exortação paulina, conformamo-nos, ao inverso, a este século.
Por que Jonas não quis encarar Nínive? Nínive está aí. Vivemos dentro dela. Somos como Jonas. A única diferença é que nossa viagem é uma fuga conceitual.
De que medo Jonas, ou nós em Jonas, fugimos? Seria da radicalidade do amor de Deus, que agora pensamos que foi, exclusivamente, dirigido a nós?
Ou não sabemos o que pregar aos ninivitas? Como diz Cavaco, a palavra que nos engoliu e agora nos vomitou de volta no mundo, dela perdemos o efeito e não mais acreditamos no seu poder?
Teremos vergonha de expô-la, porque não mais acreditamos em milagres e ela, a palavra, remete a milagres. Porque o que chama(ávamos)mos "Palavra de Deus", o velho Livro, diluiu-se em nossa hermenêutica e em nossa homilética.
Não pregamos a Nínive, porque somos Nínive e estamos aguardando um Jonas que não virá, porque fugiu, porque somos nós mesmos. Talvez seja por isso que Jesus, um dia, falou que Jonas se constitui num sinal.
Jesus foi Jonas em Nínive. Não fugiu. Mas a cidade o matou. E ele ficou três dias no ventre da terra. E ressuscitou de volta. Paulo repetiu isso aos coríntios, dizendo ser o cerne do evangelho.
Que poder, então, há nessa palavra? Devemos repetir para nós mesmos? Acreditamos nisso, ainda? Devemos repetir aos ninivitas? Ou no nosso novo modo de entender "igreja", ela é nosso navio de fuga?
Estamos no porão, dormindo, nem orando (como o publicano orava, não, talvez como o fariseu, descrevendo a nós mesmos o quanto somos virtuosos).
Talvez venha a tempestade. Teremos de sair do navio. Para dizer aos ninivitas que a religião deles (e nem a nossa) vai salvar ninguém. Repetindo a história ao inverso.
Não vai adiantar orar a todos ou a qualquer deus/Deus. Como Jonas, vamos esperar que ninivitas venham perguntar por nossa ou, se há em nós, (alguma) fé?
Temos o que pregar aos ninivitas ou, por descrer dos milagres, não mais enxergamos o sinal em que Jonas se constitui? É possível um Deus de milagres?
Quais milagres? Somos nós, ou quem são, os que definem, para Deus, que tipos de milagres ele faz(fez)fará? De novo, nossa hermenêutica e homilética virão em nosso socorro?
É melhor descrer de Jonas, porque nos deixará mais seguros. Afinal, todos nós temos senso de ridículo. Mas, melhor ainda, será manter a fé em (em quê?) Jesus. Porém, esquecendo de que Ele tenha apontado Jonas como sinal(?).

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