segunda-feira, 8 de março de 2021

Tal Pai, tal Filho.

      Falar sobre as mulheres. A gente, como homem, tem de entrar manso nesse assunto. Porque os disparates praticados contra elas, em sua esmagadora responsabilidade, é nossa. Por isso, ainda que saiamos em defesa delas, nossa condição e discurso vão despertar suspeitas.

    Mas temos que falar. Eu, principalmente, que tive mãe dominante, que para onde eu esperneava, via as marcas dela em minha vida. Pior ainda, quando as profecias dela se cumpriam. Até hoje vivo sob efeito  das principais.

    Posso citar três. Ela me acostumou na igreja, querendo ensinar, e conseguindo, que não era lugar de onde sair ou me afastar. Como professora, vivi à sombra de suas escolas e corri atrás de me safar, procurando ajuda nas disciplinas mais difíceis, que se avizinharam ser, justamente, português e matemática.

     Deu tão certo, que cheguei a ser aprovado em vestibular de engenharia e hoje sou professor de português. E, com certeza, a mais importante escolha da minha vida, o casamento, foi palpite dela.

    Agora, diz que conselho de mãe é bobagem. Para mim, nunca foi. Aliás, a Bíblia previne que os pais sejam honrados. Também os previne a não provocar (e nem derramar) ira nos filhos. Uma situação contrabalançada, mas compete ao filho, incondicionalmente, com peso e reponsabilidade maior, cumpri-la.

     E, por falar em Bíblia, um monte de gente desmerece o livro, responsabilizando-o inclusive por uma suposta depreciação do valor e dignidade da mulher, reforçada por ele. É necessária uma abordagem sensata, porque é injusta e equivocada essa afirmação.

      Por um lado, por ser autêntica literatura de época, a Bíblia apresenta reflexos dessa discriminação da mulher, no quadro histórico que delineia mas, por outro lado, seus autores defendem a posição da mulher, demarcando e confirmando sua efetiva importância.

       Vamos começar por Jesus. Depois iremos ao Antigo Testamento. Começar dizendo que eram mulheres que lhe sustentavam as estiradas dele. Mateus diz que andava por toda a parte fazendo todo o tipo de bem. E eram mulheres de toda a classe social. Só para citar Joana, esposa do procurador de Herodes.

       Maria Madalena nunca foi prostituta, confusão que fazem, muito menos amante de Jesus. Desnecessária essas duas intrigas para mostrar Jesus mais íntimo delas. Mas ele dignificou todas e vamos mencionar, pelo menos, três entre elas, discriminadas por sua condição social, injustamente vista com suspeição.

     A samaritana, depois aquela que, na casa de Simão, derramou unguento, secou com seus cabelos e beijou o pé de Jesus, e ainda a que foi arrastada por uma turba à presença do Mestre, acusada, tendenciosa e manipuladamente, de adúltera.

     A todas, sem distinção, Jesus colocou na posição que mais ofende quem a si mesmo se enaltece, em detrimento dos que seleciona, depreciativamente, ao seu redor: na posição de igual.

     Desde a introdução, a Bíblia nivela iguais homem e mulheres, desde quando afirma que "Deus criou a sua imagem e semelhança, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou". Bem definido, detalhista e enfático o Livro, desde sua introdução. Homem e mulher têm a cara de Deus.

     E para encerrar, vamos citar Agar, uma serva, Rute, uma viúva camponesa, e uma rainha deslocada de lugar, mas não de foco, Ester.

     A escrava foi dada por amante, pela esposa, ao próprio marido, Abrão, porque avaliava que o menino nascido seria seu, por direito, mas nunca foi de fato. Claro que o velho gostou da ideia, serviu-se da escrava, engravidou-a, tentou enquadrar como "herdeiro das promessas" o bebê nascido, deu tudo errado.

     E, como sempre, a corda arrebenta do lado mais fraco, Sara mandou Abrão enviar Agar sem rumo, ao deserto, deserdando mãe e filho a sua própria sorte que, na verdade, seria a morte. Cínico esse tal de Abrão.

    Deus apareceu à escrava. Um dos textos mais lindos do Antigo Testamento. Dessa mulher nasceram príncipes. Todos pais das nações árabes. A promessa feita a Abrão se cumpria: judeus, árabes e todos os povos, tribos, línguas e nações são de Deus.

     Deus não faz acepção de pessoas, como costumamos fazer. A gente se arvora em juiz da conduta alheia. Contra uma recomendação bíblica de que não devemos julgar ninguém. Exatamente porque, como ensinou Jesus, somos, entre nós, todos iguais. É duro, para você, reconhecer isso?

     Vendo o erro no outro, como escreveu Obadias, sim, lamente, mas ao invés de condenar ou se alegrar com a falência declarada dele (ou dela), ore, com sinceridade, por ele(a). Às vezes, a maldade do outro faz por revelar a nossa própria.

     Deus mandou Agar voltar e se humilhar diante do casal patriarcal. Ela obedeceu. E só mais tarde, de novo sob orientação de Deus, seguiu seu rumo, mas sempre debaixo da providência de Deus. A camponesa foi Rute. Dessa vez, Deus escolheu entrevistar uma moabita.

    A chamada somente poderia ser por meio de uma família inteira que não agregava preconceitos. Havia uma recomendação na lei civil e cerimonial judaica que nunca houvesse casamento entre judeus e mulheres moabitas.

    Por causa dos únicos sobreviventes da catástrofe sobre Sodoma e Gomorra. As meninas, filhas de Ló, sabe-se lá por que prática herdada ou ideia acolhida, embebedaram o pai e engravidaram dele. Não precisa desculpar a Bíblia por essa narrativa: é a realidade humana nua e crua.

     Nasceram Amon e Moabe. Então, mulheres amonitas ou moabitas eram discriminadas. Mas a família de Elimeleque, Malom e Quiliom fizeram a leitura certa. Escolheram para si Orfa e Rute, pelos critérios que devem compor esse tipo de escolha, porque não agregavam nenhum preconceito.

     Mas uma tragédia em série deixou viúva Noemi, a sogra das meninas e, posteriormente, viúvas as próprias meninas. Abateu-se sobre Noemi tremendo ressentimento e mágoa, entrou em conflito com Deus e decidiu retornar a sua cidade, Belém de Judá.

     Noemi não sabia que a vida em comum da moabita no contexto de uma família despojada de preconceitos, definitivamente, marcara com fé a vida de Rute. Na tocante despedia das três mulheres, Rute não de afastou de Noemi e resolveu enfrentar, desafiadoramente, toda a rejeição que uma moabita iria encarar defronte, apenas do outro lado do rio Jordão.

     Quanto mais perto, mais dói o preconceito. Ester, de Ishtar, escondeu que era Hadassa. Com esse nome judaico, jamais venceria o concurso de beleza, estética e etiqueta promovido pela Corte Persa, para substituir como rainha a feminista Vasti. Ester aprendeu a impor seus direitos por outras vias, sem "bater de frente" com aquela sociedade machista.

    E foi sábia em conseguir. Advertida pelo tio, Mordecai, arquitetou, com todo o seu charme, um esquema de revelação/ocultação em dois banquetes seguidos, onde compareceu Haman, o que intrigava os judeus diante do rei, e o desmascarou.

    Haman pretendia eliminar todos ou quanto mais judeus pudesse. Ele odiava a todos. Não pensem que ódio coletivo contra judeus ou outras nações seja algo que só se vê na Bíblia. Está na tela. Está nas ruas. Cheira ódio aí ao lado.

     Deus não faz acepção de pessoas. Tratou igual a escrava, a camponesa e a rainha. Ama igual judeus, árabes, moabitas, amonitas, enfim, toda língua, povo, tribo e nação. E como e porque a Bíblia afirma ser Jesus, o Filho de Deus, Jesus nasceu sem e nunca praticou preconceito. Lição que temos, mais essa, de aprender com o Pai e o Filho. Mas nunca pensem que é fácil. 




     

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