sábado, 27 de março de 2021


       Eu quero agradecer, primeiro a Deus, pela vida de Dercilia. E acho que comigo toda essa linda família agradece. Mas também desejo agradecer a Cláudio, Lilian, Inez e Miguel, por compartilhar comigo a mãe de vocês.

    Nós não éramos nem nascidos ainda, e essa história Dercilia me contou, Cid, meu pai, irmão de José, pai de Dercilia, levou minha mãe à roça, no Farope, para conhecer a família dele.

    Dercilia cantou para mim os corinhos que tia Maninha, pelo apelido que ela chamava minha mãe, ouvidos por ela, ainda uma menina de 12 ou 13 anos. Desde essa época nunca mais Dercilia esqueceu de Jesus.

    Eu ainda me lembro, vagamente, de meus 5 ou 6 anos, de vez em quando, brincava com meus primos, seus filhos, muito rápido, na época que moravam em Nilópolis, perto da igreja Congregacional, ali na Mena Barreto.

    Mas a marca de Dercilia e sua fé caiu como um manto de consolo sobre minha vida e de minha mãe no ano de 2016. Cheguei ao Rio de Janeiro no início de março, porque, muito provavelmente, a tia Maninha tinha uma grave doença.

     Nessa época, já anos antes, Dercilia já fazia companhia a ela. Isso era reconfortante para nós, aqui no Acre, porque sabíamos que Dorcas precisava de alguém que a ajudasse. A idade, para mais de 80 anos, já pesava.

     Dercilia era esse anjo humano que Deus deparou na vida de minha mãe. Quando nos visitava, sempre falava da tranquilidade que era ter Dercilia em sua companhia e, na sua ausência, cuidando do ap no Meier. Total e incondicional confiança.

     Na primeira noite que cheguei, encontrei as duas no ap, minha mãe às voltas com o mal-estar no estômago, diagnóstico ainda incerto, mas uma coisa era certa, certíssima: a dedicação de minha amada prima Dercília.

     Eu, deitado na sala, ouvia as orações de Dercilia, que repousava no quarto, acompanhando minha mãe. Naquela noite, não sei se foi emocional, cochilei de cansado, pela viagem aérea, mas acordei com forte dor de cabeça.

      Nada falei com nenhuma das duas. 23h45 saí para a rua. A única farmácia aberta marcou minha pressão 17/10. Avancei pela Dias da Cruz, a pé mesmo, pensando no Salgado Filho. Mas no meio do caminho tinha o posto de saúde  Cesar Pernetta.

    A atendente me disse que eu estava com sorte: havia pouca gente. 40 min depois, colocaram um captopril sublingual em minha boca, pediram para esperar por ali, a pressão diminuir, e me dispensaram hora depois.

     Abri bem devagarinho a porta, para não incomodar as duas. Lá por 1h e pouca da manhã.  Havia sussurro de oração no quarto. Não vou cansar aqui com muitos detalhes. Mas é exatamente nos detalhes que Dercilia se mostra maior.

      Só mais uma história de pressão alta. Desta vez, cerca de 4h, na enfermaria de Dorcas, no Cardoso Fontes. Eu disse a ela que não dava para esperar amanhecer. Eu havia improvisado aquela noite a mais, contrariando a Assistente Social que orientou não acompanhar duas noites seguidas.

     Esquecera o losartana. No hospital, relutavam em disponibilizar, pois alegaram tudo tem de ser prescrito. Ela não se preocupou. Era mãe. Quando alcancei a ladeira da Grajaú-Jacarepaguá, então pensei, não há ônibus nessa hora, apenas amanhece.

     Junto com esse raciocínio, justo na chegada à beira do asfalto, descia um taxista solitário. Sinalizei. Parou, mas de novo pensei, para perguntar, ainda em corrida? Indo para casa. Puxa. Mas para onde o Sr vai? Méier. Ladeira acima voltando.

     Levo o Sr lá. Eu disse, mas não, onde você mora? Jacarepaguá. Ladeira abaixo. Ele insistiu, não, levo o Sr lá. Levou. Agradeci muito, depois de ter contado toda essa história, misturado com Deus e sua providência.

     Cheguei ao Meier, ainda ia dar 5h no relógio. De novo, abri a porta de ferro e vidro bem cuidadoso. Não queria acordar Dercilia no quarto. Não. Deparei Dercilia sentada no sofá da sala orando em voz alta. Nem precisa dizer por quem.

     Mais silencioso ainda fiquei. Tomei o tal remédio. Banho. Sono. Ouvindo Dercilia ainda orando, em voz alta, na sala. A marca de Dercilia.  Com todas as outras com que, em sua vida, presenteou-nos. Sou um dos primos acima de 60 anos. Isso significa que convivi com os pais dela.

     Meu tio José e minha tia Odete, pais de Dercilia e mais 4 filhas e 3 filhos, marcaram a vida de todos com o evangelho. Creram a partir dos primeiros convertidos, Cid Gonçalves de Oliveira, meu pai, e do caçula Isaías Barcelos de Oliveira, este um jovem de 19 anos, recém-convertido, que ajudou meu pai na evangelização dos irmãos deles, meus tios e tias.

     Esse sorriso lindo de Dercilia todas as irmãs e os irmãos tem igual. Herdaram dos pais. O evangelho nos ensina a sorrir. Ainda que tristes, tocados pela perda, como ocorre a tantos nesse tempo, a mesma fé de nossos pais nos sustenta.

    Tenho muito mais que falar de Dercilia, minha prima. Dizer aos filhos que tentei cuidar dela, nessa época da luta de minha mãe, mais do que Dercilia cuidou de mim. Não consegui. Ninguém cozinha como Dercilia. Não há café da manhã melhor preparado do que o dela.

     Mas eu me preocupava. Nunca permiti que ela pernoitasse no hospital. Ficava durante a manhã e sempre dizíamos que retornasse de táxi. Eu dizia a mim mesmo que devia satisfações aos filhos dela. Porque, nessa época, com toda essa dedicação, carinho e amor, Dercilia chegava aos 78 anos.

     No dia seguinte a sua internação, cheguei a ver uma chamada do dia anterior em meu celular. Ela havia ligado para mim. No retorno, fui informado de que já estava hospitalizada. Pela conta que Dinair, sua irmã, informou, durou uns 3 meses a sua luta. Mais ou menos o tempo que durou a luta de minha mãe.

     As duas venceram essa luta. Dercilia e tia Maninha, como ela chamava aquela que cantou corinhos "Como é bom ser um crente, como é bom" e "Eu vou ali cantando/E volto aqui trazendo/Almas preciosas pra Jesus, meu Salvador". Pelo seu testemunho, ao longo de sua vida, agiu assim.

   Gratidão a Deus pela vida de Dercilia. Gratidão aos filhos dela que a compartilharam comigo, nos cuidados com a minha própria mãe. Aqui no Acre oramos todo o tempo por vocês e mencionamos nos cultos on line essa necessidade. Como com minha mãe, em 2016, nem a sentença, a toda hora, mencionada pelos médicos, ela é terminal, tirava-me a esperança em Deus.

   Com relação  a ela, mais vocês do que eu, agimos assim. Não esperávamos e não nos conformamos com a morte. Mas Dorcas e Dercilia nos ensinaram a fé de seus pais. Por isso, temos certeza de que estão juntas, com seus sorrisos, ao lado de Jesus e o sorriso dEle
 





5 comentários:

  1. Louvado seja o Senhor pela vida de Dercilia e tudo que representou em nossa família. Deus console o nosso coração. Obriga Senhor

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  2. Que história linda de superação da prima Dercilia e de minha tia Maninha! Graças a Deus por essas vidas preciosas pra muitos!

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  3. Aleluia! Louvado seja Deus. Que herança linda, Senhor, em nossa família.

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  4. Tia Maninha, mulher maravilhosa, grandiosa em cuidado, amor e testemunho. Jamais vou esquecer do seu carinho por mim e por todos da família! Isso era marcante em sua forma de viver!! Dercília, marca inconfundível herança de seus pais, tia Odete e tio Zezé, mulher de oração! Que linda a sua dedicação por tia Maninha! Exemplo pra nós de fé, dedicação e amor. Sou muito grata e honrada por fazer parte desta família de mulheres tão queridas, guerreiras e abençoadas! Mulheres que deixam marcas de fé em suas gerações!! Louvado seja o Senhor!!!

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  5. Aleluia! Louvado seja Deus por essa gente simples que foram nossos avós e nossos pais. Gigantes de fé. Oh, Deus, seja louvado o Teu nome. Aleluia!

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