domingo, 20 de agosto de 2023

Graça por graça

 

   Tenho uma dívida permanente de gratidão. A irmã Graça Silveira foi decisiva em meu começo como professor na cidade de Rio Branco, em 1995, logo que aqui chegamos, eu e minha família.

    Compreendemos  eu e ela, como dádiva de Deus. E lhe fui grato, sempre mencionando e me recordando do dia em que, residindo no Bela Vista, na Floresta, na casa pastoral da Igreja Presbiteriana, deparei uma senhora batendo palmas e me chamando pelo nome.

    Era a Diretora da Escola Municipal Dom Giocondo Maria Grotti, onde trabalhava a irmã Graça Silveira, que, sabendo de minha formação, havia indicado a Letiva o meu nome.

   Eu disse, mas como? A Diretora perguntou: O Sr é formado em Língua Portuguesa? E confirmei que sim, Licenciatura Plena. Puxa, professor: estamos quase em maio e não temos professor na escola.

     Eu retruquei: como ajudar? Fácil, disse ela: Passe na Secretaria de Educação da Prefeitura e pegue uma autorização. Foi o que fiz e assim iniciei, nesta cidade, minha jornada como professor. 

   Por isso, associo à irmã Graça Silveira a iniciativa que, para mim, confirmou formação acadêmica e profissional porque, desde 1980, Deus me conduzia, no dilema de sair do curso de engenharia, entendendo as letras e não os números como vocação.

    E seria em Rio Branco, Acre, o início do magistério, associando a carência ocorrida na cidade, naquela época, à providência dEle, movendo o expediente da irmã Graça Silveira em me indicar à sua Diretora.

     O dilema da decisão letras X números foi marcante em minha vida.  Agora, com 66 anos, pode nem parecer tão dramático, mas por volta de meus 20 anos o foi. Pois a compreensão dessa confirmação e o início em sala de aula, no Acre, foi decisivo.

    Deus tudo norteou, definindo, construindo e demarcando minha personalidade. Terminando o Seminário em 1981, em 1983 fui convidado a dar aulas de hebraico. Configurava-se o perfil de professor, e não engenharia, cuja matrícula tranquei em 1979.

     Então habilitei-me na UERJ, 1982-1988, cursando licenciatura em Português-Hebraico, eu e pastor Paulo Leite, como no Seminário, colegas de turma. Fui ordenado pastor em 02/01/1983 realizei concurso, em 1992, no Rio de Janeiro e, em agosto de 1994, chamado para lecionar no município dessa cidade.

   Mas fiquei apenas até dezembro de 1994, para vir para Rio Branco, onde agora Deus confirmava a formação realizada, suprindo o sustento da família, usando, para isso, a presteza da irmã Graça Silveira.

    Junto com o ministério pastoral, a relação construtiva com os alunos, 16 anos na escola pública, com mais 15 anos seguidos em escolas privadas, delinearam o traço de minha vida nestes 28 anos de Acre.

    Deus usou a irmã Graça Silveira para me introduzir nessa dinâmica. Reconheço isso, diante de Deus, jamais esqueci e sempre menciono. Realizei concurso em 1997, iniciei no CEBRB em 1998, completei a outra matrícula em 2006.

   Também tive o privilégio de realizar, com o pastor Nelson Rosa, o casamento de sua filha Meire. E conhecer o seu filho, Fred, da maneira mais divertida e inusitada possível.

   Vindo ao Acre, pela primeira vez, em agosto de 1993, logo reconheci os indícios de chamado. Faltava confirmar com a esposa, no Rio de Janeiro, e demais ajustes, que sempre somam nessa confirmação.

   Marcamos para julho de 1994 a nossa vinda mas, em função do nascimento do bebê Isaac, em abril, adiamos para janeiro de 1995. Então decidi retornar ao Acre, para ajustar onde morar, quando a família chegasse.

   Foi quando conheci Fred. Havia uma "pelada" de futebol de salão, na quadra do antigo colégio Lindaura Leitão, na Isaura Parente, já demolido por problemas estruturais.

   Era noite, refletores acesos, jogo correndo, e alguém me apresentou ao Fred. Ele, mais do que empolgado, bem ao seu estilo, parou a bola. E me levou à quadra, apresentando o carioca que vinha para o Acre, pedindo que eu falasse algo sobre o evangelho.

   Bem ao seu estilo. Eu gaguejei, é claro. Não estava acostumado a esse estilo. Mas falei: Desculpem o Fred, mas a vida é assim mesmo, o inesperado ocorre. Por isso devemos estar preparados, e o evangelho é a melhor prevenção, para esta e qualquer outra surpresa, positiva ou não.

   Tudo muito rápido. Posteriormente, conheci os outros filhos da irmã Graça, Jane e Fernando. Agora sei que há netos e até bisneta. O gesto da irmã Graça Silveira estabeleceu o elo que confirmava meu ingresso no magistério, em Rio Branco, já indicado o elo da providência de Deus, habilitando-me, desde meus 20 anos, também para o ministério pastoral.

   Nesse ano de meu início, em abril de 1995, nosso sustento duplicou, visto que Regina cuidava de Isaac, com 1 ano de vida, e somente em 1998 inciou no colégio onde, até hoje, ela trabalha.

   Gratidão a Deus. Gratidão à iniciativa dessa irmã. Certeza de sua companhia ao lado de Jesus. Marcas de sua vida cristã, mais de perto marcando a vida de seus filhos e filhas, assim como testemunhando a tantos outros.

   Gratidão pela vida do pastor Nelson e sua esposa Josilene, incansáveis no anúncio do evangelho, em seu labor no Reino de Deus e no exemplo de dedicação, vocação e chamado a uma dedicação integral. Ah, Senhor, se a geração de hoje imitasse esse casal...

   Por meio deles o evangelho alcançou a família de Graça Silveira. Por meio deles, seguindo seu despertar missionário, eu e minha esposa enxergamos o Acre e o apelo "passa a Rio Branco e ajuda-nos".

   Por meio da irmã Graça, Deus, em sua graça, confirmou o elo que, desde os dramas de meus 20 anos, habilitava-me, muitas vezes sem eu nada vislumbrar, que a dobradinha magistério/ministério seriam meu traço de existência.

    Ontem, no sermão pelos 168 da denominação congregacional, essa que a irmã Graça abraçou, com toda a sua dedicação, o pastor Nelson Rosa lembrou como ela foi essencial, em sua amizade e seu amor, tanto para ele, quanto para sua esposa Josilene.

   Companhia mais que frequente nas evangelizações diárias, nas visitações, sempre membro da igreja onde eles estivessem, fosse Tancredo, Vila Betel ou Ilson Ribeiro. Dizimista fiel. Ainda que estivesse fora de Rio Branco, nunca falhou em sua fidelidade.

   Graça e minha mãe Dorcas estão agora juntas no mesmo lugar, em companhia de Jesus e todos os demais que já partiram. Quando minha mãe se foi, pedi a Deus que me concedesse ser muito mais parecido com ela, ainda nesta vida.

   Pois na medida em que elas marcaram nossas vidas, na medida em que muito imitaram Jesus, como filhas muito amadas, resta a nós aumentar ainda mais, para além das marcas que deixaram em nós. Exemplos de mulheres virtuosas.

   Graça por graça.

Marcas de valor:

2 comentários:

  1. D.Graca e família são uma benção! 🙏😢 Elida Cordeiro -Recife-Pe

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  2. Que lindo texto. Dona Graça, muito amada e amiga.

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