sábado, 21 de novembro de 2020

Desmantelo e inoperância: quando a palavra mente. A profecia de Jeremias e o descrédito do discurso

    "Velo sobre minha palavra para a cumprir", diz o Senhor a Jeremias quando o vocaciona. Qual é a palavra,  como ouvir ou dizê-la e quem a transmite?

    Esse era o destaque da profecia de Jeremias. Por isso aparece na introdução do livro, na narrativa de sua vocação. O contexto do ministério de Jeremias tem a regência da palavra de Deus. 
    Josias foi guindado à posição de rei pelo grupo "povo da terra", do qual se conhece pouco de sua identidade, mas se tem certeza de sua força política. 
     Garantem o menino no trono, contra uma conspiração que assassinou Amom, seu pai, mal completara 2 anos no trono. Com 16, afirma o texto das Crônicas, Josias dispõe o coração para buscar a palavra do Senhor.
   Em meio às reformas que manda empreender, exatamente na faxina do templo de Jerusalém, encontram um rolo que, levado a Josias, torna-se chave no empenho de legitimar as reformas que já empreendia. 
      Por todos os lados cercam as palavras. As que impulsionam o adolescente Josias, neto de Manassés, símbolo do que foi pior como rei, em Judá, apontado como causa do exílio por vir. E bisneto de Ezequias, rei que resiste, em oração, ao cerco de Senaqueribe, em 701 a. C., rente às muralhas de Jerusalém, limite até onde vem o assírio.
     Palavra escrita no rolo do Deuteronômio, encontrado esquecido em meio aos entulhos, dentro do templo. Tradição que vem, de etapa a etapa, sendo reeditada pela escola canônica de reformistas, até alcançar o reinado do último rei piedoso antes do colapso.
      Desde a fuga de egressos do reino do norte, colapsado pelos assírios em 722 a.  C., quando trouxeram o que se supunham ser as tradições escritas no período de prosperidade de Salomão, reunidos agora em rolo os escritos que darão sobrevida ao povo, de 586 a 536, no período do exílio em Babilônia, até ao retorno e valorização da Torah, sob Esdras e Neemias, a palavra de Deus escrita dá contínuo suporte ao povo de Deus. 
     E agora com o naar Jeremias, esse a quem Deus repreende por se dizer ser muito jovem, querendo escapar de sua irredutível responsabilidade, com ele somam-se à palavra previamente escrita e tradicionada, a autêntica e atual palavra do Senhor dirigida àquele povo.
    Quem fala, como fala, de que modo fala, qual é a palavra de Deus por boca de Jeremias? E Deus ainda hoje fala? Então, do mesmo modo, quem, como, de que modo e quando, por boca de quem e de quantos? É nítida essa palavra? Discerne-se a palavra e a não palavra de Deus? 
     Urge identificar que discursos são não palavra, quando esta cumpre o papel de confundir. Cumpre seu papel ao inverso e deve ser desacreditada. A não palavra e o não discurso trazem em si mesmos os indicativos de sua hipocrisia.
     No tempo e época de Jeremias, no tempo e época de hoje. Jeremias ensina a identificar onde e como estão estruturados os discursos de falsidade. Questiona e denuncia todas as pseudo autoridades de seu tempo, do rei ao ancião caduco e corrupto, do príncipe ao falso juiz, do sacerdote idólatra, vendido e imoral ao falso profeta.
     Desmascara. Porque Deus vela sobre sua palavra para a cumprir. E essa palavra é martelo que esmiuça a penha.
     

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