sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Deus e o dilema do amor

   Oseias é o profeta que retrata bem isso. Deus indica que se case com uma mulher infiel. Para que ele sinta, do mesmo modo que Deus sentia, a infidelidade de quem era alvo de seu amor.

     E no caso os infiéis somos nós. Essa ideia de que são eles, no caso, não existem eles: infiéis somos todos nós e também alvo do amor de Deus. 
    O dilema do amor é amar, entre infiéis que reconhecem sua condição, aceitando o amor de Deus, e infiéis que perduram em sua condição e rejeitam o amor.
    A profecia de Oseias mostra como é a reação de Deus diante desse dilema. Começa com os nomes dos filhos do profeta: Jesreel, Lo-ruama e Lo-ami. 
    Cada um, pelo nome recebido, carregava sinais de infidelidade. O sangue do vale de Jesreel, onde morreram pela espada de Jeú os filhos de Acabe, e "Desfavorecida" e "Não meu povo". A identidade dos filhos representava a distorção da identidade do povo. 
     Chamados a ser o povo de Deus, sacerdotes entre as nações, na antiguidade, Deus se empenhava por lhes devolver a identidade perdida. 
     Deus dedicou-se a resgatar seu povo do Egito. No deserto, falava-lhe ao coração. Se por um lado Números mostra as "estações da rebeldia", Oseias chama de namoro esse período. 
    Deus não pode deixar de denunciar as particularidades da infidelidade, mas sua história de amor com o povo perdura e se configura Seu esforço para que prevaleça o amor sobre o pecado. 
    "Irei e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, cedo me buscarão, dizendo: Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele. Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra".
      Deus espera a conversão. Ela chama à conversão. Conhecer o Senhor é privar de Sua comunhão. É Deus que atrai com cordas de amor. "Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho. Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura. Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer".
     Em Seu dilema Deus renega a condição humana, indicando que não se pode deixar dominar por sentimentos que O privem do seu amor: "Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como a Admá? Como fazer-te um Zeboim? Meu coração está comovido dentro de mim, as minhas compaixões, à uma, se acendem. Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira".
      Vence e prevalece o amor de Deus.  "Volta, ó Israel, para o Senhor, teu Deus, porque, pelos teus pecados, estás caído. Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao Senhor; dizei-lhe: Perdoa toda iniquidade, aceita o que é bom e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios".
     Incondicional o amor. Mas não pode prescindir das palavras de arrependimento e da conversão. Oseias deixa claro a necessidade da maior e definitiva demonstração do amor de Deus,  que foi amar como homem, tendo se feito homem, na pessoa de Jesus Cristo para, definitivamente, salvar. 
     "Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? Meus olhos não veem em mim arrependimento algum".
     Somos chamados a deixar de lado nossa infidelidade. E quanto a Deus, não se arrepende de amar assim.

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