domingo, 22 de novembro de 2020

Desmantelo e inoperância: quando a palavra mente. A profecia de Jeremias e o descrédito do discurso

     Se Deus existe, fala. De nada adiantaria um Deus distante, enigmático ou mudo. E sua fala está perto e fácil de ser entendida.

    No Antigo e Novo Testamentos há afirmações sobre a natureza desse diálogo com o homem. A palavra de Deus está no diálogo com o homem.
 
     Paulo Apóstolo diz que a palavra está perto, na boca do homem, ou seja, ao alcance da compreensão humana, no boca a boca com Deus. 

    E o autor de Hebreus diz que Deus fala de muitas maneiras e, para completar, falou pelo Filho. Todas as falas anteriores sempre foram autênticas, a fala pelo Filho foi seu ápice e todas as falas posteriores também são autênticas.

     Como identificar as falas anteriores, a autêntica fala pelo Filho e as falas posteriores? Ou Deus nunca falou, o Filho é uma fraude e as falas em nome do filho são blefe?

    Não existe uma palavra dada, estática, da qual o homem faça um print e compartilhe, cabendo ao traço final dessa operação sua compreensão. 

    O diálogo de Deus com o homem é dinâmico. Alguns personagens das histórias bíblicas ilustram esse dinamismo. Josué, por exemplo, a ele foi dito ser necessário meditar, cumprir e proclamar. 

     Deus está presente, com o homem, nessas três instâncias: o diálogo no silêncio da meditação, o suporte no momento do esforço para cumprir e a autoridade para proclamar.

     A voz da gutural fala de Deus uma única vez foi ouvida. No ensaio do Sinai, quando se supôs ouvir, o povo instituiu Moisés como profeta. Não que fosse novidade, porque muito antes Noé foi considerado profeta à sua geração e ainda antes dele Abel que, mesmo depois de morto, ainda fala.

     Daí para a frente, Moisés ficou encarregado de transmitir ao povo a palavra de Deus. Foi assim instituído o ministério profético. Deus até achou interessante a solução sugerida pelo povo, no Sinal, mas descreu da facilidade deles em acatar e obedecer a palavra dEle transmitida por boca de profetas. 

     Ilustrativo, na história do rico e de Lázaro, contada por Jesus, supor que o milagre de um morto ressuscitando, para pregar aos entes queridos, seria um facilitador da fé. Jesus autorizou o ministério profético em curso, afirmando que, se não creem nos profetas, ainda que ressuscitasse um dentre os mortos, para pregar aos vivos, a descrença prevaleceria.

     Boca a boca, a palavra de Deus está acessível e compreensível ao que crê, ao que prega a palavra e ao que ouve. Em Jeremias vemos a cobrança pela palavra profética não ouvida, a autenticação da palavra pregada, frente aos discursos da demagogia, e a palavra sendo escrita, em curso, para servir como referência às gerações futuras. 

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