sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Um problema de foco

   Jesus conduzia sempre a conversa ao eixo correto. Se o interlocutor não acertava certeiro a pergunta, Jesus corrigia. E o assunto conduzia ao eixo certo.

  Com Nicodemos, ele interrompe o fio condutor do raciocínio do líder fariseu, elogiando Jesus por demais, para trazer o diálogo para o que era crucial na tradição farisaica: o gene.

   Nicodemos, você precisa nascer de novo. Dizer isso a quem se julgava um bem-nascido filho de Abraão, era, no mínimo, arriscado.

   Como nascer de novo? Jesus replicou, ora, o mestre não é você? Eu sou o filho do carpinteiro. Nascer de Deus era novidade na teologia farisaica.

   Na casa de outro fariseu, previamente convidado para uma arapuca, Simão e seus iguais estavam ansiosos por ter do que acusá-lo. Eis a chance de ouro: entra no ambiente uma mulher da vida.

   Procura Jesus com os olhos, localiza-o, dirige-se chorosa em direção a ele, unge com bálsamo os pés do Mestre, enxuga-os com seus cabelos e os beija. Era, para os hostis fariseus, o prato feito.

   Jesus, então, desloca o foco. Ora, vocês querem, então, medir caráter. Pois me digam: um credor que chama dois devedores, uma dívida de 500 e outra de 5000, perdoados os dois, quem ficará mais grato?

   Unânime resposta, ora, o que mais deve. Está aí, diante de vocês: teoricamente, não acham, é ela que deve mais? Por isso que mais ama. O óleo para os cabelos, o beijo e o asseio, ela o fez para meus empoeirados pés. Por isso demonstra que mais ama.

    O foco da samaritana era o que a afastava de Jesus. O de Jesus, o que o aproximava dela. Não tinha conforto em sua tumultuada vida íntima. Na vida religiosa, refletia a mesma polarização racial de ódio entre eles e os judeus.

   Jesus trouxe a conversa para o foco correto. Ele mesmo e tudo o que estava disposto a fazer. "Eu sei que virá o Messias", ela disse. "Eu, sou eu, que falo contigo", disse Jesus. Bastou para ela. Foi anunciar aos outros.

   Nem sempre trazer a conversa para o foco alegrava Jesus ou quem com ele falou. O anônimo jovem rico não saiu satisfeito do diálogo com Jesus, que o amou, como assinala o evangelista Marcos.

   Mas não foi possível chegar a um acordo. O jovem quis alto, a dúvida era legitima e a pergunta feita à pessoa certa: "Que fazer para herdar a vida eterna?" Mas, como retorno pessoal, a ênfase estava distorcida. Jesus o demonstrou com uma sutil sugestão.

   Perguntou ao jovem se conhecia os mandamentos. Ele encurtou, na resposta, afirmando que desde muito cedo conhecia todos. Jesus, então, sugeriu que se desfizesse de todos os seus bens, para então tonar-se seu discípulo.

   O jovem asustou-se. Como perder tudo? Ora, o primeiro mandamento é amar a Deus acima de todas as coisas. Não era para o jovem se retirar. Era para dizer a Jesus que não conseguia abrir mão. Bastava confessar que sim. O resto, Jesus faria.

    Sejam Nicodemos, as anônimas samaritana e a prostituta da casa do fariseu Simão, ou o jovem rico, bem conceituado, não importa: com todos eles Jesus trouxe o diálogo para o foco correto.

   O problema está em assumir o foco. Nicodemos hesitou. A samaritana, quando enxergou, creu. A mulher da casa de Simão já entrou na festa previamente convencida. E o jovem rico se afastou frustrado.

   Eu o sou, eu, que falo contigo. Qual o seu foco, no diálogo com Jesus? Qual o seu foco, no ano que entra? Acredita, mesmo, que dá para caminhar todos os caminhos na presença de Jesus? Foca nisso, neste ano.

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