segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Estudos em Efésios 10 - Ouça o Espírito

    Para compreendemos o dilema da igreja de Éfeso, em sua sutileza, ou seja, uma aparente imagem de ordem em sua agenda, frente a uma análise desfavorável do próprio Jesus, que analisa pela falta nela do essencial, precisamos elencar os dados.

   Temos João 15, onde Jesus expõe o triângulo (1) permanência nEle, (2) permanência na palavra, (3) permanência no amor. A consequência natural são os frutos que, pelo exposto na carta do Apocalipse, não corresponde ao que Éfeso apresentava.

   Temos, também, o texto de Paulo, numa própria carta aos Efésios, em torno de 50 d.C., na qual afirma como Deus, na potência de seu poder e em sua graça fortalece os crentes, por meio do Espírito, o que representa habitar Cristo no coração deles.  

    E a consequência dessa ação da Trindade segue expressa: ¹⁷ "Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, ¹⁸ Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, ¹⁹ E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.  Ef 3.

   E temos os texto de Lucas, em Atos 2, pelo qual descreve as características que habilitaram a comunidade dos primórdios como igreja ativa, coerente e dinâmica em todos os seus setores. A descrição de Lucas indica a rotina dessa igreja, que explica as razões por que permanece como modelo permanente para as comunidades ao longo da história.

   Baseados na comparação desses textos, podemos elencar alguns fatores, estejam patentes como ausentes ou não, na carta aos Efésios, mas que constam como essenciais para a restauração pretendida e advertência, para qualquer igreja diagnosticada como Éfeso.

1. Pelas palavras de Jesus, sem que nEle se permaneça e com a reciprocidade da permanência de Cristo no crente, em comunhão efetiva, não se permanece em Sua palavra e nem no Seu amor.

   Por extensão, se há, na carta à igreja de Éfeso, uma reprovação por "abandono do amor", havia falha nessa reciprocidade da comunhão com Jesus e consequente permanência na palavra e no seu amor, razão da falta de autênticos frutos.

2. É essencial na igreja, como esclarece Paulo, em sua oração, na própria carta dele aos Efésios, que Deus opere, pelo seu poder, por meio da presença do Espírito Santo no crente, tornando real a habitação de Cristo nesse mesmo crente.

   Portanto, a ação que conduz à plenitude do amor é exercida diretamente por Deus (e, por extensão, a Trindade, em si). A palavra "abandonar", na carta de Jesus aos de Éfeso, significa apartar de si, negligenciar, divorciar-se do amor. Evidente que para que isso ocorra, afastar-se de Deus foi a causa.

   Essa ação de Deus não é opcional. É a essência de ser igreja. Paulo menciona, em outras cartas, ser carnal ou criança, aos Coríntios, entristecer ou apagar o Espírito, como registra na própria carta dele aos Efésios, em 4,30, e aos Tessalonicenses, 1 Ts 5,19, ou decaídos da graça, em Gálatas 5,4, os que são afetados por essa apatia de fé. Para esse diagnóstico dado por Jesus à igreja de Éfeso, certamente uma crise dessa natureza se configurou.

3. E quanto à descrição feita por Lucas, dos procedimentos que, juntos, compõem a feição dinâmica da comunidade de Atos 2,42-47, não temos condições de comparar, com mais exatidão, as duas igrejas.

     A de Jerusalém era menos institucional, dependente, talvez, em maior escala da companhia mútua de seus membros, mesmo por reunir-se nas dependências externas da extensa esplanada do Templo de Jerusalém.

   Talvez o porte da igreja de Éfeso, percebido nas entrelinhas da carta, ou transparente de suas ações, tenham conferido à igreja uma feição mais rígida, institucionalmente e, por isso mesmo, mais distante e com perdas em relação à feição da comunidade primitiva.

   Revisando a postura desta igreja de Atos, o apego à doutrina ou ensino dos apóstolos, por extensão, o apego à palavra, já anotamos como essencial. O fator comunhão, manifestado nos procedimentos elencados em sequência, quais sejam, estar unidos com frequência no templo, frequentar, com qualidade, a casa uns dos outros, assistir na medida da necessidade de cada um, haver temor em cada alma, enfim, podemos afirmar que tenha faltado em Éfeso? Quais desses elementos podem ser preteridos na história de qualquer igreja?

   Mas se houve em Éfeso, foi porque, certamente, os objetivos, em essência, foram distorcidos. Todo esse ajuntamento, essencial em igreja, não reverteu, como ocorreu na comunidade primitiva, para alterar o grave problema vital na igreja de Éfeso, numa análise feita pelo Senhor da igreja.

     Não há experiência com Deus fora da experiência do amor. Toda a experiência autêntica do ser igreja está circunscrita a esse processo. Não há outro modo de se experimentar ou vivenciar o amor de Deus.

    Jesus sentencia: ⁵ "Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele." Ap 2.

A palavra para "caiu" é a mesma para a queda primordial, no Gênesis, e, para "arrepende-te", a mesma que se aplica à conversão. E "abandonar" o amor sigjfica apartar de si, negligenciar, divorciar-se dele.

     Não se pode dizer, de Éfeso, que nutrisse apostasia. Não havia uma liderança que os corrompesse, como em Tiatira, não haviam afrouxado sua resistência às perseguições, com igual procedimento ao de Filadélfia, e nem, como em Sardes, tinham o nome de vivos, estando mortos. E ainda resistiram à falsa doutrina nicolaíta, como Pérgamo não fez.

      Será que, tendo se profissionalizado na fé, de um modo tão sofisticado, no trato com o evangelho, tornou-o um acessório que compunha a autoimagem própria de igreja e de seus crentes, ciosos do orgulho de pertencer a uma cidade que poderia ser considerada uma vitrine da Ásia Menor?

   Corre-se esse risco. Na avaliação de Jesus, como que necessitavam de uma (re)conversão. Sim, é possível e necessária uma autoavaliação permanente, como igreja, ou até aos olhos de outrem, ganhar nota máxima na performance, como com a comunidade de Atos. Que seja uma avaliação estilo a de Lucas, ou uma positiva aos olhos do próprio Jesus. Ou uma que siga o processo de autenticidade expresso na oração de Paulo.

   Já deve existir na praça o CEO ou o Coach da fé. Mas somente Jesus terá a capacidade de gerir autenticidade. Como saberemos isso? Como avaliaremos, ao autoanalisarmos nosso próprio desempenho? Sim, cabe a nós fazê-lo. Para isso, levando em conta sempre a advertência final de Jesus, ao completar cada carta:

    ⁷ "Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus."  Ap 2. Ouça, Éfeso (e similares), ouçamos nós, da mesma forma.

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