sábado, 24 de abril de 2021

No morro de d. Diná

 No caso de Jesus, Maria, mãe dos rapazes, Tiago e João, não obteve sua reivindicação, de dois ajudadores, um à direita e outro à esquerda.

Mas em Copacabana eu tive duas ajudadoras, uma à direita e outra à esquerda. E o ministério que desenvolvemos foi em tudo muito interessante e inusitado.

Simone e Rita, por ordem de idade (e tamanho) conheciam uma amiga que residia num dos morros do Rio de Janeiro. Novamente, razões de privacidade, vamos mudar os nomes. Era Diná, no morro da Corujinha. Essa amiga delas era pessoa influente, como liderança, e residia num lugar estratégico.

Interessou-se por estudarmos juntos a Bíblia. Ficou decidido que dia tal, a tal hora eu estaria sempre lá para estudarmos juntos. O acesso era por uma ladeira curva, de paralelepípedos, e eu poderia deixar o carro até aberto, se quisesse, com chave na ignição, era só falar que iria na casa de d. Diná.

Tinha a maior moral com a rapaziada do pedaço. O maior respeito e a maior responsa. Ninguém mexia com ela. Eu chegava e já dizia, vou na casa de Diná, e todas as portas de abriam. Certa vez, foram até me indicar o rumo. Aguentei firme, como dizia meu pai.

Porque eu já sabia. Mas queria era demonstrar atenção, gentileza e gratidão. Parecido com outras comunidades morro acima, subiam-se degraus, acessava-se uma alameda, com entradas de portões e portas a lado e outro, até chegar numa estratégica testa de esquina, a lado e outro, onde ela residia.

A posição tornava a residência como uma guarita, montando guarda na subida, ponta a ponta da alameda, até avistar-se a rua de passagem, lá embaixo. Tão estratégica que, certa vez, minha chegada coincidiu com os carros da polícia civil. Eu subi, normalmente, previamente sabendo ser rotina e que os moradores, por si, já deveriam estar antecipadamente avisados.

Degraus, acesso à alameda, portas de casas e portões lado a lado, foi quando avistei Diná, a meio caminho, conversando com a vizinha da direita. Coincidentememte, eu subia, ela se virou para me cumprimentar e, por cima de meus ombros, avistou "os homi" subindo, ainda com os pés nos degraus de início da alameda.

Ato contínuo, continuando a tagarelar, sorridente, com a vizinha, adiando o meu boa tarde, olhou à esquerda, na mesma direção, mas no sentido oposto ao da vizinha, para os três rostos masculinos que vinham, de dentro para fora, do imóvel defronte ao da vizinha.

Imediatamente, inventou um nome, Verinha, que seja, menina, você não vai hoje ao salão? Os três rostos estatelaram os corpos, onde estavam embutidos, fizeram-se olhares de espanto, olhos arregalados, eu entendi e me mantive em levitação, os olhos arregalados, agora, recuaram os corpos, dando marcha a ré, ao mesmo tempo em que, sem nenhum som, estivessem inquirindo e, ao mesmo tempo, querendo confirmação.

E ela veio, numa forma cifrada, diríamos hoje, pois estamos em 1992, criptografada, pois é, ela me perguntou se você ia, e eu disse que não sabia. Pois é. Olhos, rostos e corpos ganharam o rumo oposto, sobrancelhas arcadas confirmavam ter entendido o recado cifrado, Diná e eu nos entreolhamos, como sabendo que tínhamos de dar uma olhadinha, rumo abaixo, na alameda, como numa postura dissuasória, um despiste.

Assim o fizemos, com a maior naturalidade, demorando o tempo exato, para não despertar desconfianças, assim, como num olhar de paisagem. Os caras que subiam, todos a paisana, mas com mãos no coldres, outros com as automáticas da época apontadas para o chão, não me lembro, varriam com o olhar seu ângulo de visão, à volta, passaram por nossos olhares, nada viram, e nós também ficamos na nossa conversa.

Claro que enxergaram todo o teatro, aliás, em nome deles encetado, sem que eles mesmos soubessem. Boa tarde, boa tarde, ao passarem por nós, despedimo-nos da vizinha, fui apresentado a ela, foi convidada para o estudo bíblico, agradeceu e falou que sim, qualquer hora aparecia, subimos, entramos, trocamos uns trocados de conversa e não se fala mais nisso. Vamos ao estudo: abram suas Bíblia no livro tal, capítulo tal e versículos tais. E "talecoisa" (tal e coisa), como dizia meu avô... Vamos à nossa reunião, que o assunto daquela outra eu nunca soube.

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