segunda-feira, 12 de abril de 2021

Visões da Bíblia - Moisés oculto na cavidade da rocha - 14

     Não adianta subterfúgio. Moisés tinha mesmo, com Deus, uma proximidade inusual. A Bíblia não detalha, mas o fato de subir o monte apenas com Josué e, ainda por cima, ele ficar fora à parte, como dizem os acreanos, isso era sinal de exclusividade.

      E na crise, mais uma, de autoridade que, ora, vejam só, Arão e Miriam lideraram, Deus chamou os dois, para dizer que não era, com Moisés, como fora com qualquer outro, porque era um cara a cara entre os dois, Deus e Moisés.

     Mas também não era o cara a cara que pensamos. Porque João Apóstolo, em seu evangelho, deixa claro que ninguém jamais viu a Deus, homem nenhum, exceto Jesus que, além de ver, revela totalmente o Pai.

     Mas Moisés viu mais do que nenhum outro. E ainda faltou ver, evidentemente. A ponto de pedir a Deus que lhe mostrasse sua (de Deus) glória. Deus atendeu, como que ocultando com a cavidade da mão a Moisés numa caverna, passando diante dela, e permitindo a Moisés vê-lO pelas costas.

     Ocultar com a mão significa prevenir que veja a glória do modo como, unicamente, Jesus pode ver. E colocar junto à penha, a Rocha, que é Jesus, foi profético, porque é sobre a Rocha onde estamos, por enquanto ocultados da presença mesma de Deus: "Eis aqui um lugar junto a mim; e tu estarás sobre a penha". Ex 33:21. E permitir ver pelas costas, é para satisfazer o pedido do amigo, mostrando-se, ainda, como nunca antes, ao homem que mais O havia visto tão de perto.

     Moisés não é um super-herói Marvel. Nem nós devemos ser, buscando superpoderes. Ou avaliando que as experiências que esses homens tiveram, são para ser reproduzidas hoje. Ou ainda especulando sobre experiências alheias, para estabelecer graus de validade, nível de espiritualidade ou percentual de credibilidade.

     Porque é Deus quem regula esse grau de proximidade. E em Jesus não estabelece grau de comunhão. Corremos o risco de nos interpor com vaidade pessoal, quando estabelecemos um index dos mais e menos espirituais, ou próximos, ou ainda uma escala de modalidades de "experiências".

       Deus procura, porque essa é a vocação dele. Estimulou Moisés, no deserto, no tempo da rebeldia maior, ao sopé do Sinai, liderados por Arão, o pusilânime, dizendo que não mais seguiria no meio do povo. Magistral a resposta de Moisés: segue, porque esse é Teu povo e Tu tens vocação por ele.

      Vocação da qual Jonas fugiu, e disse as razões: "...pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal". Jn 4:2. Deus amava intensamente até os assírios, tinha vocação irrestrita por eles, na oferta desse amor. Como entender isso? Nem Jonas entendeu. E Deus trata cada profeta ao seu (de Deus) jeito.

     Nem todo profeta fez cair fogo do céu. Nem mesmo Elias achou, em sua maturidade, que isso era expediente seu (de Elias), para usar ao bel-prazer. Jeremias e Isaías, este de quem dizem ter sido serrado ao meio, caso em hebreus seja esse seu gênero de morte, não viram os milagres que Eliseu presenciou.

     Vamos aprender com Jonas, em sua tentativa inútil de fuga, que o amor de Deus é mais radical do que ele (Jonas) ou nós mesmos concebemos. Com Jeremias, que viu Jerusalém queimar, o templo virar cinzas, os muros desabarem, com mais os detalhes descritos nas Lamentações, que muitas vezes Deus permite as tragédias provocadas pela humanidade sem interferir uma palha sequer. Nenhum milagre sequer.

      E vamos acompanhar o raciocínio do autor anônimo de Hebreus, quando diz que não vimos o Sinai fumegar, não ouvimos a voz de Deus naquele dia, não ouvimos o toque de advertência das trombetas e nem o medo estampado até mesmo no rosto de Moisés.

      Mas chegamos a Cristo, à sua revelação de Deus e à sua glória revelada na igreja, ao senso de reconhecer que não há mais barreiras de raça, para o perdão de Jesus, e nem estatística dos arrolados nos céus, mas que são a glória da igreja celestial.

      Será bom evitarmos para nós o erro dos irmãos Arão e Miriam, que desmereceram as experiências que Moisés havia tido. Ele não precisou se defender. A cobrança de Deus aos dois foi direta. Mas também aprendermos que, a cada um, por quem Deus é vocacionado, cabe uma intimidade de experiências que, ao final são, por assim dizer, criptografadas, ou seja, têm exclusividade bilateral e são cifradas.

      E não há super-heróis Marvel nesse contexto, ou seja, identidade secreta de superpoderes revelados de modo velado: vamos deixar a ficção, até divertida de se ver, para o cinema. Para viver a vocação que Deus tem por nós e retransmiti-la àqueles que Deus tão intensamente ama, como a nós, mas ainda estão carentes de crer. 

     Porém, deixando de lado a síndrome de Jonas, amando intensa e incondicionalmente, como Deus ama. "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou". Ef 5:1,2. Esta é a experiência da igreja. Que tal vivê-la intensamente?

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